segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Entrevista

EU TINHA UMA TAREFA muito simples. Deveria apenas visitá-lo e fazer-lhe algumas perguntas acerca de sua repentina reclusão que há anos é motivo de curiosidade para os seus leitores. Era tudo o que eu precisava fazer. Sentar-me com ele em sua rústica varanda de cadeiras de madeira, aceitar um copo de água, elogiar o seu trabalho e dirigir-lhe alguns questionamentos prontos que eu carregava em minha mala. Não precisava sequer fazer anotações, uma vez que a tecnologia nos afasta cada vez mais dos lápis e das canetas.

Fui recebido como um visitante que ele esperava ansiosamente. Apesar de não haver nada fora do lugar e os móveis aparentarem um tímido brilho, foi logo se desculpando pela bagunça enquanto um pequeno cão deitado sobre o tapete aos pés de um sofá enchia-se de moderada raiva. Solicitou que eu me sentasse eu uma das cadeiras que circuncidavam uma mesa de madeira de altura reduzida enquanto iria à cozinha buscar algo. Seu amigo baixinho lhe seguiu como se sentisse medo de me fazer companhia, mas eu não dava a mínima para o que ele pensava. Observei o armário cheio de porta retratos, mas ao me aproximar pude perceber que apenas o que havia ali eram as figuras originais do fabricante: famílias felizes montadas artificialmente, modelos animais ou crianças perfeitas. Mais acima, algumas garrafas vencidas de vinho devidamente fechadas. Os últimos raios de sol entravam por uma janela de vidros quebrados que jamais pareceu estar aberta à medida que eu iria compreendendo quanta solidão abrigada aquela casa cada vez mais abandonada. Fui perguntado se estava a observar o seu jardim enquanto ele voltava com uma garrafa de vinho à mão. “Já trabalhei muito nele”, completou. “Mas hoje não sinto mais ânimo de continuar”. Mesmo sem ter percebido a sua droga de jardim, respondi-lhe que estava fazendo um ótimo trabalho e o estimulei a continuar.

- Vamos, sente-se. Imagino que tenha algumas perguntas a me fazer. Deve estar com pressa.
- Muitos criaram expectativas acerca desta conversa. Têm muitos curiosos a fim de saber o que tem feito e por onde tem andado.
- Eu sempre escrevi e continuo escrevendo. Nunca andei em lugares por onde os interessados nesta entrevista estiveram, e portanto não sei por qual motivo insistem em dizer que me isolei. Não é verdade?
- Pensando por esse lado, faz algum sentido.
- Demorou muito para chegar até aqui? Dizem que o caminho é meio confuso.
- Sim, em certo ponto do trajeto tive que voltar cerca de 300 metros. Há muitas entradas parecidas em sua vizinhança.
- Ah, sim. Tenho bons vizinhos. Não posso reclamar. Eles ficam há quase um quilômetro de minha casa em qualquer uma das direções.
- Não posso dizer o mesmo. Moro num apartamento.
- Aquilo não é lar. Onde já se viu uma casa sem telhado e sem calçada? O seu prédio não é uma casa. É apenas um prédio.
- Me lembro que foi difícil para consegui-lo.
- É verdade que damos mais valor às coisas que nos vêm através de muito esforço, mas é preciso pensar no verdadeiro sentido das coisas. Não desperdice tanto tempo de trabalho comprando um pedaço de edifício em vez de uma casa com muros, quintal e jardim. Aonde seus filhos irão brincar? Você tem filhos, não tem?
- Um menino e uma menina.
- Deve ser um belo casal. Já sabem escrever?
- O meu garoto está chegando lá.
- Você não acha que estas nossas crianças estão cada vez mais precoces? É um fato.
- Deve ser um reflexo da velocidade com que recebemos informação.
- Acha que as crianças devem ter acesso à tecnologia desde pequenas?
- Não acho uma boa idéia.
- Você tem computadores em casa, não tem? Imagino que os seus filhos já sabem utilizá-los.
- Meu garoto gosta de jogos.
- Ah, os jogos! As crianças de hoje aprendem a atirar antes de escreverem seus sobrenomes. Não é interessante?
- São mesmo precoces.

Enquanto ele me fazia perguntas, foi aos poucos se dirigindo à varanda que já se encontrava escurecida. Foi obrigado a acender a luz externa. Quis saber acerca de meu trabalho no jornal, minha esposa e o lugar aonde moro. Perguntou ainda se eu tinha contato com meus amigos de infância e há quanto tempo não fazia uma viagem. Me deu inúmeros conselhos e me alertou do perigo da volta para casa, mas me consolou ao dizer que o caminho de volta é sempre mais rápido. Apertei-lhe a mão e entrei no carro, mas antes que ele entrasse para a sua solitária casa, me agradeceu em voz alta:
- Obrigado pela entrevista.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Soldadinho

QUANDO CRIANÇAS, planejamos o nosso futuro de um modo tão singelo e fantasioso que somente quando adultos percebemos o quanto nós mudamos. Ainda me lembro de desenhar no chão do quintal as ruas de uma cidadela aonde brincaria com meus carros coloridos. Dinossauros e soldados existiam no mesmo plano histórico e as horas passavam ligeiras até a hora do jantar se anunciar. Eu temia virar adulto e abandonar as minhas diversões de infância chegando a prometer a mim mesmo que brincaria de soldado mesmo quando adulto, mas esse jovem foi se perdendo a cada ano dentro de um vilão em crescimento. Porque os adultos são vilões. Com as suas ordens; com os seus gritos; com as suas conversas chatas; com os seus compromissos idiotas; e com os seus dinheiros que nunca sobram para nada realmente interessante. Sinto falta da infância que nunca tive, dos amigos de rua que nunca brinquei, dos machucados que nunca curei e das surras que nunca levei. Com o passar do tempo pareço até uma criança reprimida num corpo que não me pertence mais. E pior que quebrar uma promessa feita a alguém é não levar a sério os juramentos feitos a nós mesmos. “- Soldados, preparar!”

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Suspiro

AVISO AOS NAVEGANTES: Sei que faz cerca de um mês que não atualizo de verdade este blog (uma vez que o último post foi apenas uma cópia do que publiquei em outra site), mas eu sei que isso aconteceria mais cedo ou mais tarde. A maioria dos blogs são assim: a maior quantidade de assunto se concentra nos primeiros meses de criação e decresce consideravelmente com o passar do tempo – e milhares deles não duram mais que 50 semanas. Espero que o KozmisSoldier não seja apenas mais um pela estrada (pelo menos não agora) e por isso pretendo me dedicar gradativamente sempre que possível. Porque ainda há vida por aqui!

sábado, 22 de novembro de 2008

Aleatoriedades

ATENDENDO AOS PEDIDOS de Jéssica (Jsk) por uma nova postagem neste blog, transcreverei aqui uma brincadeira que publiquei na Casa do Snoopy. Trata-se do Aleatoriedades, aonde você escreve seis coisas sobre você e indica mais seis pessoas para fazer o mesmo, sempre seguindo essas regras:

1. Link a pessoa que te indicou.
2. Poste as regras em seu blog.
3. Escreva 6 coisas aleatórias sobre você.
4. Indique mais 6 pessoas (ou quantas quiser) e coloque os links no final do post.
5. Deixe a pessoa saber que você o indicou, deixando um comentário no blog dela ou lhe mandando um e-mail.
6. Deixe os indicados saberem quando você publicar seu post.

Eu sei que é uma espécie de corrente (coisa que não gosto nem um pouco), mas pode trazer algo de bom: conhecer melhor nossos amigos blogueiros, conhecer novos links interessantes e o melhor de tudo, que é atrair novos leitores para o que escevemos

Então aí vai. 01. Já li Lolita 3 vezes (sim, acho que é o meu predileto) e não consigo acompanhar qualquer livro de James Joyce sem um dicionário para me socorrer. 02. Eu matava aula com os amigos para comer as frutas do colégio (caju, banana ou serigüela). 03. Nunca gostei de Chaves, uma vez que não tive a oportunidade de apreciar o seriado na infância (em minha casa não pegava o SBT). 04. Meu computador é obsoleto (o coitado se esforça até para abrir o Gmail) e não consigo juntar dinheiro para comprar um novo, pois sempre compro algo menos útil. 05. Eu me apaixono em média a cada 5 anos, mas nunca namorei nenhuma de minhas “desejadas” (foi assim no 1º grau, no ensino médio e na faculdade. 06. Eu nunca termino as coisas que começo (seja um livro, uma história em quadrinhos ou até mesmo o meu curso na faculdade). Alguém aí me dá um punhado de persistênca?!

Então fica aí o convite para Roseana (Doce Ócio), Jaque (Jaque Sou), Jéssica (Jsk), Clarissa (Doce Clareza), Ellen (Doce Pesadelo) e Bah (Memórias Escritas a Lápis - que eu já cumpriu a sua tarefa).

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Homem árvore


UM PENSAMENTO DE infância me veio numa dessas tardes dominicais aonde eu devorava uma laranja e descartava os caroços jogando-os pelo jardim junto às plantas de minha mãe. Meu pequeno e curioso cão corria atrás de cada um deles e mastigava-os sem engolir, uma vez que não tinha nada melhor pra fazer. Lembrei-me, então, que na infância eu fazia por onde não comer sementes a fim de evitar que crescesse dentro de meu estômago juvenil uma grande árvore. Sim, senhor. Como seria interessante ver saindo de minha boca uma folha verde ou de minhas orelhas alguns galhos marrons em busca de luz. Seria eu homem-árvore ou árvore-homem? Prefiro nem imaginar, porque eu não gostaria de criar raízes.

domingo, 26 de outubro de 2008

Laerte

Publicadas na Folha de S. Paulo nos dias 03, 13 e 22/10/2008:


sábado, 18 de outubro de 2008

Aventura de Sono

NÃO CONSIGO MAIS controlar a vontade de cochilar no ônibus enquanto volto pra casa. E tudo parece exatamente simétrico, uma vez que é sempre no mesmo lugar do trajeto aonde minha rendição começa. Nosso relógio biológico funciona perfeitamente quando a nossa rotina se torna constante. Há uma semana eu mudei o horário de meu despertador, pensando que assim eu ganharia mais alguns preciosos cinco minutos de sono, mas vi que não deu certo. Ora, eu sempre acordo cinco minutos antes do alarme gritar em meu ouvido. Então espero desperto pelo momento de desligá-lo.

IMPRESSIONANTE É o tamanho da vontade que temos em permanecer na cama quando somos obrigados a acordar cedo. Já perdi uma dezena de aulas por conta dessa preguiça. Um amigo dizia que colocava seu despertador do outro lado do quarto para que se sentisse obrigado a levantar logo, a fim de não incomodar o sono dos outros. Porque quando o sono realmente é grande, um despertadorzinho já não adianta.


REZA A LENDA QUE Hipnos, o deus do sono, não conseguia adormecer em si o amor que sentia. Inocente dos olhos que o seguiam, a graça Pasitéia se banhava e adormecia. É então que Hipnos saía de seu esconderijo, mas ao menor movimento da jovem ele desaparecia entre as árvores. Nos banquetes do Olimpo não se cansava de admirá-la, mas temia confessar-lhe o amor.

DE REPENTE HERA vem a Hipnos pedir-lhe um favor: teria que fazer com que Zeus adormecesse durante a Guerra de Tróia para que os gregos a ganhassem, pois ele protegia os troianos no longo confronto. Em troca, Hipnos ganharia um trono de ouro, que seria construído por Hefestos; e o amor da mais jovem das graças, sua querida Pasitéia. Encorajado, aceitou o acordo instantaneamente.

HERA UNTOU SEU corpo com óleo, amarrou os cabelos, vestiu a túnica bordada por Atena e cubriu-se de jóias. Calçou as sandálias de ouro e envolveu-se de um véu dourado. E por último, colocou o cinturão de Afrodite, na qual pediu emprestado contando à deusa que precisava dele para reconciliar seus pais adotivos, Oceano e Tétis, que teriam discutido. Perguntada pelo marido aonde iria tão enfeitada, Hera respondeu que iria visitar seus pais, mas Zeus, encantado, proibiu-a e chamou a deusa para a cama, aonde fizeram amor. Hipnos então o adormece, o que permite a vitória dos gregos.

À NOITE, O DEUS do sono viu uma clareira e avistou Pasitéia, sua graça amada, que parecia esperá-lo desde cedo. Aproximou-se encorajado por um sorriso e beijou-lhe as mãos, sentindo-se o mais feliz dos imortais.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Constelação piegas

DAS LETRAS QUE COMPÕEM seu nome farei inconstantes personagens irreais. Vestirei cada um deles com as cores de seus pêlos, a intensidade de seu sangue, a transparência de suas lágrimas, a alvidez das suas presas, a profundidade de seus olhos e a textura da sua epiderme. Colocarei em suas bocas aquilo que sempre quis ouvir de você, mas ainda não me foi permitido. E então, gravarei a posição de uma dezena de estrelas no dia de seu aniversário a fim de reproduzir a cena e batizar a constelação nascente com o nome pelo qual você é chamada, para que eu sempre me lembre de jamais esquecê-la.

sábado, 27 de setembro de 2008

Invisível


Ainda me lembro do que ele ma chamou. Covarde inútil. Se eu já estava pra baixo, as palavras do capitão me jogaram de vez no chão. Mas talvez seja mesmo verdade. Minha missão já caminha rumo ao fracasso desde o seu princípio. Eu me iludi e enganei ao mesmo tempo aqueles que um dia já acreditaram em mim. O acaso acertou em cheio o meu estomago. Quiçá tenha sido esta a razão de meu vômito, que derramei novamente em meu velho caderno.

Eu tentei entrar na mente dela e acabei afastando-a de mim mais uma vez. Ainda não aprendi a abdicar dos recursos proibidos que possuo. Procurei me afastar de todos e percebi que não era necessário, uma vez que nunca estive verdadeiramente acompanhado. Se eu sumir, ninguém perceberá o ocorrido, uma vez que ninguém procurou saber sobre mim enquanto estive recluso. Como podemos sentir falta de alguém que nunca esteve conosco? Alguns sentimentos adquiridos ainda me são incompreensíveis.

Meu comunicador já não dá sinal de vida há tempos, mas sei que ainda funciona perfeitamente. Da última vez em que o utilizei respondi ao capitão que me cobrava um relatório dos acontecimentos, e isso já faz meses. O curioso é que estou sempre disponível, mas todos fingem não me ver. Talvez até deva discursar sobre essa indesejada habilidade em meu próximo ofício, o que poderá chamar a atenção de alguns.

Ele me pediu que eu sorrisse. E é o que eu tenho feito desde então. Este soldado nunca pareceu tão socializável. Esconder as mágoas, no entanto, é uma árdua tarefa, e uma recaída poderá a todos surpreender. “O que aconteceu com ele? Parecia tão bem...”

Ilusão. Ninguém responde à despedida de um fantasma uniformizado.

sábado, 20 de setembro de 2008

Laerte

Mais algumas tiras interessantíssimas do Laerte (publicadas em 30/08, 03/09 e 13/09/2008, respectivamente):



sábado, 6 de setembro de 2008

Realidades paralelas

Bons filmes são aquele em que você olha constantemente a sua duração e torce para que não acabe logo. Havia certo tempo que não me ocorria isso, até assistir Efeito Borboleta (The Butterfly Effect, 2004). Sim, eu já sabia que era um excelente filme, mas não sei por que nunca havia assistido... O roteiro gira em torno daquela vontade que todos temos de voltar no tempo e consertar alguma coisa que deu errado, alterando a nossa atual realidade. Simplesmente fantástico.

Outro filme interessantíssimo que fala acerca de realidades paralelas é Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças (Eternal Sunshine of the Spotless Mind, 2004), um verdadeiro clássico moderno aonde Jim Carrey vai a uma clínica a fim de apagar algumas lembranças que o atormentavam, mas acaba se arrependendo do que havia feito Abre los ojos (1997), produção européia que originou a cópia Vanilla Sky (2001), também gira em torno da “modelagem” de lembranças. Neste filme, contudo, a criação da realidade falha e o nosso anti-herói se vê em um pesadelo, aonde deveria existir apenas um sonho. Não devemos nos esquecer do elogiado Amnésia (Memento, 2000), cujo protagonista tem um problema em sua memória recente e tenta investigar o assassinato de sua mulher, reconstruindo passo a passo os fragmentos de suas desconcertantes lembranças.

Falando em volta no tempo e mudança de personalidade eu me lembrei da música “O Velho e o Moço”, de Los Hermanos, que tem uma letra impecável. Vou transcrevê-la aqui (clique no play para ouvir a música e acompanhar a letra):

Deixo tudo assim, não me importo em ver a idade em mim / Ouço o que convém / Eu gosto é do gasto / Sei do incômodo e ela tem razão quando vem dizer que eu preciso sim / De todo o cuidado // E se eu fosse o primeiro a voltar pra mudar o que eu fiz / Quem então agora eu seria? // Ahh tanto faz! E o que não foi não é / Eu sei que ainda vou voltar... / Mas, eu quem será? // Deixo tudo assim, não me acanho em ver vaidade em mim / Eu digo o que condiz / Eu gosto é do estrago / Sei do escândalo e eles têm razão quando vem dizer que eu não sei medir nem tempo e nem medo // E se eu for o primeiro a prever e poder desistir do que for dar errado? // Ahhh, ora, se não sou eu quem mais vai decidir o que é bom pra mim? / Dispenso a previsão / Ahhh, se o que eu sou é também o que eu escolhi ser, aceito a condição // Vou levando assim / Que o acaso é amigo do meu coração / Quando falo comigo, quando eu sei ouvir... (letra de Rodrigo Amarante)

sábado, 30 de agosto de 2008

Desenhe quem você quiser


RECHEADO DE OPÇÕES, o site Ultimate Flash Face oferece diversas possibilidades para que você faça o retrato falado de quem quiser. Passei vários minutos montando os rostos mais bizarros, só não arrisquei desenhar a mim mesmo... O interessante é que o resultado fica bem profissional. Vale a pena visitar!

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Concentre sua informação

QUANDO VOCÊ SE torna leitor de blogs, a tendência é descobrir cada vez mais e mais páginas interessantes, uma vez que um artigo acaba ligando a outro numa rede bastante temática e mutante. Acabamos nos tornando fiéis visitantes de alguns sites, mas muitas vezes a falta de tempo nos impede de continuar antenados com as novidades e de acessar constantemente certos conteúdos. No entanto, há dois meses aprendi como funcionam os “feeds” (ou “RSS”) e acabei com esse meu probleminha de tempo

FEED/RSS NADA MAIS é que uma distribuição simplificada de uma página ou blog da internet. Para lê-lo, é preciso utilizar ferramentas conhecidas como “leitores de feed”. Eu utilizo o excelente Google Reader, que funciona como uma espécie de conta de e-mail. Ao adicionar o feed de um site em seu leitor, ele passa a receber instantaneamente as novas postagens. Ou seja: você passa a ler seus blogs favoritos sem precisar acessar cada um deles separadamente. Eu assino, por exemplo, as tirinhas da Folha de São Paulo, as novidades do PCI Concursos, o Whiplash.net, o Sedentário & Hiperativo, o Jacaré Banglela, e os blogs de meus estimados amigos. Como eu abro o meu Google Reader todos os dias em casa e no trabalho, sempre sei quando algum deles publicou conteúdo novo – e leio a maioria ali mesmo.

OUTRA COMODIDADE interessante é a notificação de novas mensagens ou recados no seu e-mail quando fazemos parte de mais de uma comunidade na internet. Toda vez que alguém me manda um novo recado no Orkut, MySpace, Last.fm, ou em alguns fóruns dos quais participo, por exemplo, fico sabendo toda vez que abro minha caixa de e-maisl do Gmail. Isso economiza um tempo precioso, uma vez que não preciso ficar visitando meus perfis de um por um. Quer comodidade ainda maior? Há um plugin do Gmail para o Firefox que notifica toda vez em que você receber um novo e-mail, evitando a obrigação de abrir a caixa de entrada a toda hora, se você estiver, por exemplo, aguardando a resposta de alguém sobre algum assunto importante. Ainda quer mais facilidade? Receba suas notificações de novas mensagens pelo celular! (algumas operadoras disponibilizam esse serviço gratuitamente – o que infelizmente não é o meu caso. Maldita Oi!).

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Ganhando tempo

Enquanto tento realinhar meu fluxo de pensamento, vou postar aqui uma excelente tira feita por Laerte, que apareceu na Folha de São Paulo em 06/08/2008 (ela me fez lembrar do meu livro - aquele que eu nunca mais continuei):

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

The Dark Knight

RECONHEÇO QUE ULTIMAMENTE a tristeza e a solidão tem sido o tema central de meus últimos textos. Poderia até mudar o título do blog para Lonely Soldier... mas ninguém gosta de ler sobre depressão - será esse o motivo pelo qual perdi alguns leitores? Não me esforçarei, contudo, para agradar a todos.


HOJE FUI AO CINEMA conferir o tão bem comentado filme do morcegão, “Batman - O Cavaleiro das Trevas” (The Dark Knight, 2008). Não podia mais aturar a minha ansiedade “nérdica” e conviver com o meu fracasso de tentar arranjar uma companhia para assisti-lo. Saí fardado do trabalho e entrei na primeira sessão da tarde, horário nada conveniente para a maioria das pessoas. Nossa, e que maioria: achei que ficaria sozinho no cinema (alguns minutos depois entraram mais uns quatro espectadores – dois deles na mesma situação solitária que a minha). mas confesso que por pouco não desisto de assistir. Ora, quando me deparei com o cartaz do filme DUBLADO fiquei extremamente decepcionado. E o que eu achei do filme? Putaquepariu, foi o melhor filme de ação que já assisti!!! O Coringa está tremendamente mau e o Batman perfeitamente sombrio. É realmente a melhor adaptação para o cinema de um herói dos quadrinhos. Mas ainda aguardo ansioso o lançamento do DVD para poder desfrutá-lo em versão legendada e com muito mais calma.

sábado, 26 de julho de 2008

Aprendiz


PASSOS DESENCONTRADOS cruzam a avenida em celeuma após encontrar uma lacuna no tráfego. Ele teme ser atingido mesmo estando incólume na outra margem; e se tivesse orelhas iguais às de um cão estariam constantemente apontadas para o passado, numa alusão ao medo ou insegurança. Hoje, contudo, não está cabisbaixo. Em seu percurso ele toca um poste, faz das grades de uma casa um violão e desemborca uma tampa de garrafa com um único toque de sapato. Não que esteja feliz, é apenas interação. Uma maneira particular de dizer a si mesmo que está presente. De repente percebeu que poderia modificar tudo à sua volta, mas lhe faltava apenas a coragem de fazê-lo. Foi capaz até de provocar sorrisos, mesmo estando ferido por dentro. É que a sua máscara nunca funcionou tão bem. Em seu fingimento, ele corre o risco de enganar até a si mesmo e acreditar que é verdadeiramente feliz. Está apenas aprendendo que o isolamento é um caminho sem volta; e que um infeliz seduz somente a solidão.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Estréias super-heróicas

NÃO ESPECIFIQUEI NADA nem citei título algum, mas me lembro de quando pedi à minha mãe para comprar o meu primeiro gibi aos 11 anos. Ela me veio com a revista "X-Men Anual", uma super edição de 100 páginas com uma sensacional história desenhada pelo mestre Jim Lee com roteiro de John Byrne e Scott Lobdell, além do próprio Lee. Foi a partir daí que comecei a me interessar por quadrinhos e a desenhar de verdade.


CONFESSO QUE HOJE não costumo mais comprar HQs como antigamente, uma vez que estão cada vez mais caras e a internet oferece grandes facilidades (mas, é claro, quando gosto mesmo da história não hesito em correr para as bancas, mesmo já tendo lido da internet - como aconteceu com a saga Crise Infinida), contudo, tenho uma pequena coleção em casa. Outro dia, ao me deparar no blog Rapadura Açucarada com um scan da primeira revista em quadrinhos do Super-Homem, o meu herói favorito, pesquisei sobre a primeira vez de outros grandes heróis da Dc e da Marvel Comics, como Batman, Homem-Aranha, Mulher Maravilha e Hulk, além dos grupos X-Men e Quarteto Fantástico. Eis abaixo o que encontrei (clique no título para baixar a HQ*):

Action Comics #1 (Estréia do Super-Homem - junho, 1938) 1.42 MB
Em apenas 15 páginas, o Super-Homem (primeiro super-herói das histórias em quadrinhos) salva uma inocente da pena de morte, impede uma violenta briga de casais, livra Lois Lane das mãos de um perverso mafioso e investiga um senador corrupto na capital americana.

Detective Comics #27 (Estréia do Batman - maio, 1939) 1.6 MB
Nesta aventura repleta de ação do "Homem-Morcego", Bruce Wayne tenta desvendar o seu primeiro caso, em busca de um assassino ambicioso.

All Star Comics #8 (Estréia da Mulher Maravilha - dezembro, 1941) 3.85 MB
Após vencer um torneio, a princesa Diana é escolhida para levar de volta ao "mundo dos homens" o capitão americano que caira acidentelmente na Ilha Paraíso (e por quem também se apaixonara), tornando-se então a Mulher Maravilha.

The Fantastic Four #1 (Estréia do Quarteto Fantástico - novembro, 1961) 4.17 MB - HQ em inglês
Um foguete experimental é atingido por uma tempestade de raios cósmicos, dando aos quatro tripulantes da nave incríveis habilidades, passando desde então a serem chamados de Quarteto Fantástico. Esta revista iniciou uma revolução na indústria dos quadrinhos.

The Incredible Hulk #1 (Estréia do Incrível Hulk - maio, 1962) 2.94 MB
Após ser exposto aos misteriosos raios gama, o famoso cientista Bruce Banner sofre uma alteração genética que o transforma todas as noites numa criatura grande e desajeitada. A força do Hulk chama a atenção de Gárgula, uma aberração que sonha em dominar o mundo.

Amazing Fantasy #15 (Estréia do Homem-Aranha - agosto, 1962) 2.58 MB
Quando o jovem gênio Peter Parker é picado por uma aranha radioativa, percebe ser capaz de fazer coisas impossíveis para um humano normal, como subir pelas paredes. Suas novas habilidades o deixa ambicioso e egoísta, deixando de deter um criminoso que mais tarde provocaria a morte de seu tio.

X-Men #1 (Estréia dos Fabulosos X-Men - setembro, 1963) 5.46 MB
Nas 23 páginas de estréia dos X-Men, "os mais estranhos super-heróis de todos", cinco jovens mutantes com incríveis poderes (Cíclope, Anjo, Fera, Homem de Gelo e novata Garota Marvel) liderados pelo Professor X tentam Impedir o poderoso Magneto de tomar uma base militar.

*As HQs estão no formato ".cbr", que pode ser lido com o programa CDisplay (clique aqui para baixar o programa), próprio para leitura de quadrinhos virtuais. Contudo, caso queira visualizar de outra maneira, é só renomear os arquivos para ".zip" ou ".rar" e extrair as imagens em seu pc.

sábado, 5 de julho de 2008

Trovas de um quase casal

FIQUEI TREMENDAMENTE lisonjeado quando minha adorada amiga blogueira e conterrânea Jaquelyne A. Costa (escritora do excelente blog de poesias Jaque Sou, o Jeito é Ser!) me mostrou um pequeno conto que ela produziu inspirada em meu singelo Diálogo Trovadoresco (postado aqui em 23 de maio). Não sei expressar em palavras o quanto gostei do texto (que transcrevi logo abaixo - com autorização da autora), uma vez que sou grande admirador de seu estilo mágico de escrever.


-Quem te chamou até aqui?
-O amor, minha senhora, esta chama que trago por ti no peito!
-Tolo.
-Oh, minha amada, assim a mim não te dirijas. Suplico-te. Olhes para a lua, veja a prata que nela existe e lembra-te de nossos álacres momentos!
- Sabes que nada sinto por ti, deixe de tuas cretinices!
-...
-Não me exijas...
Ele coloca de súbito a mão em sua boca, interrompendo-a.
-Parcimônia, bela dama! Não te exijo nada além do que me emprestares teu ouvidos.
-Não repita este estúpido gesto!Ora, insolente, tapar-me a boca...
-Não o fiz por mal.
-Imagino...
Ela faz um ar de ironia e cruza os braços.
-Sabes quanto a rosa perde de tua beleza?
-Não! Apenas sei de seus espinhos e o quanto doem em minha pele, e foi isto que destes a mim durante todo este tempo, mentiroso!
-Pois eu sei. Tu, adorável donzela, és mais gloriosa que as estrelas; és mais perfumosa que as rosas e seus botões; és mais formosa que toda a natureza em sua esplêndida ternura.
-Um vento forte se aproxima. Entrarei. É noite profunda, não posso mais ficar a tomar este frio no corpo. Além do que, tu só falas mentiras para mim o tempo todo. Estou exausta, não me perturbes mais!
-Não, por favor! Oh, berilo do campo estrelado! Calhandra dos verões infantes!
-Oh, sim! Se me amas, deixar-me-á entrar para não ficar constipada. Quanto ao berilo e a calhandra vai isto dizer a quem te merece.
-Mas ainda duvidas de meu eidético sentimento? Acaso achas que eu não te protegerei de qualquer mal que de ti se aproximar? Duvidas que meu coração só reclama por teu, e tão somente, o teu amor?
-Não quis ofendê-lo, meu cínico senhor. Vais para tua casa, que eu entrarei neste santiâmem.
Ela despreza a reação dele que se indigna em não alcançar o convencimento.
-Irei se me concederes o direito de encostar os meus nos teus lábios que são puro mel.
-Atrevido! Ousado! Cretino!
-Atrevido sim, meu anjo barroco, e só o amor me faz ser assim tão insolente, e ousado, e cretino como o dizes!
-Pois não admiro-te nem um pouco. E pare de me chamar assim!
Impacienta-se com toda a conversa e ele desesperado tenta mais uma vez amansar a fera que há dentro do coração dela.
-Não feches assim a porta neste coração cansado de te implorar perdão!
-Já cedi-te tempo em demasia, não posso eu ficar aqui a jogar o tempo nesta noite fria. Nada do que tu fizeres irá mudar o meu querer!
-Ficas comigo, querida. E eu te esquentarei cada estilha de teu corpo macio...
-Agora excedestes as palavras. Não me procures nunca mais! Desapareças de minha porta, de minhas vistas, de minha vida! Tiveste teu tempo. Eu te ouvi!Agora chega!
-...
-Por que choras?
-Dê-me apenas o direito de derramar lágrimas minhas por ti, já que a pessoa que mais amo não me deseja sequer em sua porta. Não há mais um sentido doce para minha vida continuar...
-Não chores, sabes que não resisto a ver alguém chorar... por favor...
-Acaso te importas com o meu sofrer?
-Sim... me importo até mesmo com um animal a sofrer... por quê? Acaso achas, pensas que sou fria e débil criatura?
-... não. Mas acredito que se te importas com meu pranto é porque ainda me amas...
-Ora! Eu já te disse que não há possibilidades para teu regresso ao meu peito, que muito foi apunhalado. Sabes bem o que fizeste com meu sentimento, e agora queres que eu o faça renascer?
-Oh, apenas dê-me mais esta vez... Eu te preciso... Oh, meu nenúfar celeste, não me abandones!
-Muitas lágrimas derramei e tu não estiveste comigo quando sofria. Em outros tempos fui-te fiel dama, amável companheira e servil amiga. Soubestes reconhecer isto? Não. óbvio que não! Não posso dar-te além do meu desprezo e minha dor... Por favor, não quero mais continuar este diálogo. Vais e esquece-te de mim para toda a eternidade.
E a noite, aquele dia, estava mais escura que o breu manto da morte. A lua sofria em silêncio por mais um amor desfeito. Ele seguiu andando como que por um labirinto do subsolo infernal, para onde vão as almas arrasadas pelo fogo do amor mal resolvido. Tinha dentro de si a certeza que jamais outro amor como este receberia de uma outra dama. Todas as que dele se aproximariam não fariam um terço do que esta foi capaz de realizar em sua vida. Ela fechou não apenas a porta de sua alcova, mas também, de seu coração. Decidiu que nunca mais sofreria com outra adaga cravada em seu jovem coração. Um dia, tudo conspirou para a união destes jovens namorados que tanto se amavam. Eis que o verme da traição corroeu a aliança e nada mais foi possível a não ser o desatamento de suas almas. O destino, às vezes, pode ser definitivo e único, perverso e drástico. O que foi quebrado jamais se recuperará por inteiro.

(Jaquelyne de Almeida Costa, 25-05-2008)

terça-feira, 17 de junho de 2008

Eu sou um rato

A SOLIDÃO DOS poetas deve ser algo verdadeiramente mortificante. Isolados eles produzem mais. Escrever é uma tarefa por si só, solitária. Até parece existir alguém maior que priva estes sofredores dos outros para que fabriquem aquilo que gosta de ler. Um pássaro canta um pranto pela liberdade e alegra alguns outros com a sua melancólica melodia.



EU SOU UM RATO
que se esconde por detrás de uma parede quando alguém ilumina o meu refúgio, pois o lugar mais sombrio é mesmo embaixo da luz. Eu sou uma barata que teme ser esmagada pelo mundo e só mostro o meu semblante úmido quando não há nenhum perigo por perto, porque sou covarde. Covarde como um grilo que cessa o seu ruído ao ser descoberto, fugindo com as suas longas pernas esbranquiçadas em busca de um novo esconderijo. Às vezes eu só queria poder voar. Às vezes é tudo o que penso: voar para bem longe.

ESTOU EM UMA
multidão. Não consigo abrir os braços ou caminhar sem esforço. Ficar imóvel é lutar para não ser carregado. Mesmo em meio a esse movimento, locomover-se se torna uma árdua tarefa. Eu quero sair. Chegar ao outro lado. Mas a correnteza me leva para um outro destino, consumindo meus calçados e rasgando a minha camisa em meio aos atritos. Meus membros já não me obedecem. Estou desesperado e ninguém é capaz de ouvir o meu grito. E então, como que de repente, a multidão se duplica e me comprime o peito. Já não consigo respirar, e à medida que crescem minha solidão se multiplica. Eu só quero estar sozinho.

SE VOCÊ FOSSE
um pássaro que nasceu enclausurado, para onde iria após ser liberto? Desejo alguém do meu lado. Alguém que enfrente comigo a claridade da estrela. Que me forje asas de cera para poder fugir deste confuso labirinto ancestral. E se for para ser um rato de asas, me chame de morcego.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Entrevista de emprego

É BEM DIVERTIDO este vídeo que encontrei em um outro blog. Do que se trata? Mostra com muito humor o que você não deve fazer numa entrevista de emprego. Geralmente, são tratadas como "infrações": falar em demasia; franzir a testa em demasia; discordar em demasia; ser dogmático; mostrar impaciência; ser emotivo; ignorar perguntas; mudar de assunto de repente; desviar o olhar do entrevistador por muito tempo; ou contar piadas (para saber mais, clique aqui). Mas aqui essas regrinhas não são levadas nada a sério:

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quarta-feira, 4 de junho de 2008

Aquele guerreiro invisível

Mas eu ainda tento escrever / Os tremores não me impedirão / Quanto ao acaso, dele sou brinquedo

Eu senti, juro que senti / O abraço das Graças a me envolver / Ainda não é hora de chorar / Eu não quero te iludir / Devo confessar-lhe: o perigo me cerca / Meu escudo está rachado / Eu revelo agora meu frágil coração / Entrego ele em suas mãos

Abra, abra as portas de tua casa / Mostre-me quem você é / A sua coleção de cabeças na parede / Os teus animais empalhados / As suas lanças ainda ensangüentadas / Os teus cálices sagrados / As oferendas ao teu deus sombrio

Abraçe-me novamente / Enquanto a viagem ainda se inicia / O caminho aqui é perigoso / Mas aquele dragão já não vive mais / Tenho-o ainda na lembrança / E na ferida em meu peito / Ela não consegue cicatrizar / Ela não consegue mais nada

Veja o meu rosto e toque a minha face / Tente reconhecê-lo só por um instante / Tente, mesmo que seja tarde / A minha esperança é imortal / E minha paciência monstruosa / Nem o teu porteiro, o Gigante de Metal / Nem mesmo ele conseguirá me deter

Aquela luz por pouco não me cega / Ela surgiu de repente, como deve ser / Não julguei estar preparado / Mas me entreguei de braços abertos / Observe a minha armadura, guerreiro / Ela reflete o teu semblante: / É preciso pensar várias vezes / Antes de tentar me ferir

A sua capa não era vermelha / Mas agora ela reflete a sua glória / Ainda que seja inútil

(Giuseppe Menezes, setembro de 2005)

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Apenas um diálogo trovadoresco

- Eu e você
- Você e eu

- Nós
- Arremates
- Estás indiferente
- Estou bem aqui
- Parece a quilômetros de distância
- O que vale é o momento
- Mais vale o pensamento
- Quanto daria por ele?
- As nuvens que choram e as estrelas que cegam
- Não pode com tamanhas moedas pagar
- Não me deixa ao menos tentar?
- Seu incômodo deve ter algum motivo
- Talvez o seu modo tão altivo
- Equivoca-se
- Transforma-se
- Julga errado
- Traduzo o que vejo
- Não pode a tudo enxergar
- É a confissão de teu segredo
- Coloca palavras em minha boca
- Perdoe meu errôneo lampejo
- Devo mesmo confessar?
- Meu maior desejo!
- Não há o que dizer
- Não é exatamente o que vejo
- Por favor, pare
- Peço que continue
- Ah, não
- Oh, não
- Agora falamos a mesma língua?
- És aquilo que sinto
- Vamos entrar, inicia-se a chuva
- Vai você, quero com as frias gotas conversar
- Irá resfriar-se
- Importa-se?
- Não deveria?
- Não irei me molhar
- E irá a chuva secar?
- Deixarei-a confundir-se com minhas lágrimas
- Choras?
- Sua dúvida me fere
- Não consigo perceber
- Impossível me conter
- Adeus
(entra)
- Oh, chuva, me consuma como a uma montanha de sal.
E me leve por este estreito bueiro.
Pois é num esgoto escuro e abandonado.
Que mereço estar após ter um amor recusado.
(consome-se)

domingo, 18 de maio de 2008

Quem é você na aula?

MUITO INTERESSANTE o que encontrei por acaso no site PHD Comics. É um divertido infográfico que diz quem você é na sala de aula ou seminários analisando o lugar onde costuma se sentar. E então, com qual desses seis personagens você mais se parece? [clique aqui para ver a tira original]

quinta-feira, 15 de maio de 2008

O Retrato de Dorian Gray

“COSTUMA-SE DIZER QUE a beleza é somente superficial. Pode ser que seja. Mas não tão superficial, pelo menos, como o pensamento. Para mim, a Beleza é a maravilha das maravilhas. Só o medíocre não julga pelas aparências. (...) Ah! Aproveite a sua juventude enquanto a tem. Não esbanje o ouro dos seus dias, dando ouvido aos tediosos, tentando melhorar o fracasso sem esperança ou desperdiçando sua vida com ignorantes, com o fútil, com o vulgar. São estes os objetivos doentios, os falsos ideais da nossa época. Viva! Viva a maravilhosa vida sua! Não perca coisa alguma dela. Busque sempre novas sensações. Que nada o atemorize.” [clique na imagem para ver o quadro]


O RETRATO DE DORIAN Gray (1890), de Oscar Wilde, é um romance sobre a corrupção da beleza. Nele, o jovem e belo Dorian possui a dádiva de jamais envelhecer, ao contrário do retrato dele pintado pelo talentoso Basil Hallward, que depositara nesta sua verdadeira obra-prima demasiado de si mesmo, uma vez que se tornara obcecado pelo seu gracioso modelo. A citação acima é de um dos diálogos do mais atraente personagem da trama, Lord Henry Wotton, cujas filosofias influenciam o até então ingênuo Dorian Gray que, ao perceber que a sua figura gravada na pintura de Basil jamais envelheceria, desejou que acontecesse o oposto: “Se eu ficasse sempre jovem, e esse retrato envelhecesse! Por isso – por isso – eu daria tudo! Sim, não há nada no mundo que eu não desse! Daria até a minha própria alma!” E é o que acontece.

O MAIS INTERESSANTE do livro é a maneira como a personalidade de Dorian vai se modelando com o passar do tempo. Acaba se envolvendo em alguns crimes dos quais jamais é suspeito, conservando intocado o seu invejoso semblante juvenil, mesmo no auge de seus quarenta anos. Enquanto isso, a sua alma aprisionada no quadro vai se tornando cada vez mais velha, enrugada e repugnante.

WILDE É AUTOR DE belíssimos poemas e contos, muitos deles sobre a beleza. Há uma inteligente conclusão sua sobre o mito de Narciso, um rapaz que todos os dias ia contemplar o rosto num lago e acabou morrendo afogado (no lugar onde caiu nasceu uma flor, que passamos a chamar de Narciso):

ELE DIZ QUE QUANDO o jovem morreu, vieram Oréiades (deusas do bosque), e viram que a água doce do lago havia se transformado em lágrimas salgadas.
– Por que você chora? – perguntaram as Oréiades.
– Choro por Narciso.
– Ah, não nos espanta que você chore por Narciso – continuaram elas. – Afinal de contas, apesar de todas nós sempre corrermos atrás dele pelo bosque, você é o único que tinha a oportunidade de contemplar de perto sua beleza.
– Mas Narciso era belo? – quis saber o lago.
– Quem melhor do que você poderia saber? – responderam, surpresas, as Oréiades. – Afinal de contas, era em suas margens que ele se debruçava todos os dias.
O lago ficou algum tempo quieto. Por fim, disse:
– Eu choro por Narciso, mas jamais havia percebido que Narciso era belo. Choro por ele porque, todas as vezes em que se deitava sobre minhas margens, eu podia ver, no fundo de seus olhos, a minha própria beleza refletida.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Insônia

Um. Dois. Três. Meus passos não fazem barulho no calçamento paralelepipedoquadriculado. Certas vezes pareço chegar como um espectro. Um susto naquele desatento sujeito.
Quatro. Cinco. Seis passos e cruzo a rua estreita ao seu encontro.
Tap-tap-tap. Passos ligeiros produzem maiores ruídos. No entanto, meu grito de desapontamento não emite nada sequer. Ele vem de dentro e fica ali dentro aumentando a minha dor. Você não estava lá. Nem mesmo compensou a travessia. Ora, ninguém estava lá.
Um, dois, três... quatro quintos de hora prá dormir. O cobertor já não me protege como antes. Não há mais motivos para isto. Há pessoas mais importantes para proteger. Sairei com meu cobertor agasalhando aqueles que eu quero bem. Dá prá contar no dedo...
Um, dois, três... dá prá contar no dedo.
Hoje tudo se resume a um. Talvez fique mais confortável assim.
Esta noite não estou de meias. O ponteiro completa a volta suavemente enquanto continuo desperto. Ele percorre o caminho com fúria e faz tanto barulho quanto meus passos.
Tap-tap-tap. Quebra a madrugada de silêncio ensurdecedor. Nada para tocar. Você não me deixa mais dormir. Consome toda a minha insônia. Em minhas ingênuas fantasias somente a sua presença me basta.
E você sempre estará ao meu alcance no outro lado da rua. Enquanto aguardo o advento de meu melancólico despertar.

(Giuseppe Menezes, março de 2007)

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Esta é uma carta de amor. Gosto dela por ser ingênua e simples. A versão original está grardada em mãos seguras. As contagens sequenciais se confundem com o barulho dos passos do ponteiro do relógio, que conduzem ao sono quando menos se espera. Às vezes só percebemos que dormimos quando despertos, não é? E o que esperar encontrar do outro lado da rua? O que vivemos é um sonho do qual talvez acordamos enquanto estamos dormindo.

sábado, 3 de maio de 2008

Nosso rock vai bem, obrigado

NESTAS ÚLTIMAS SEMANAS tenho me dedicado a conhecer um pouco mais sobre a excelente cena musical independente brasileira, de onde surgiram grupos como o Cachorro Grande, que considero a melhor banda nacional em atividade. Aproveitando a estréia do MySpace no brasil, eles colocaram cinco músicas de seu mais recente disco, Todos os Tempos, (o quarto em 9 anos de carreira) para serem ouvidas na íntegra em sua página [confira você também clicando AQUI].

PRÁ FALAR A VERDADE, comecei visitando a página da mais nova queridinha da internet, Mallu Magalhães, que faz um folk'n'roll (como ela mesmo define) cantado em inglês da mais alta qualidade no auge de seus meros 15 anos. Ela ainda não tem um álbum lançado, mas já estreou seu primeiro videoclipe, que eu certamente recomento (assista AQUI). Ela se considera fã de Bob Dylan, Johnny Cash e Vanguart, esta última presente na lista da Rolling Stone brasileira dos 25 melhores discos nacionais de 2007. Os caras do Vanguart têm letras e arranjos muito bem elaborados, levando também um som folck rock, mas com um pé no mundo indie. Tem tudo para se tornar uma das grandes bandas do país. Um outro exemplo de qualidade é o primeiro trabalho dos Los Porongas, igualmente presente na lista citada. Vinda dos confins do Acre, foi uma das que mais me agradaram e são considerados como uma "esperança do rock nacional". Também acredito nesta aposta.

INFLUENCIADOS POR BEATLES, The Strokes e Franz Ferdinand, o Cartolas vem da criativa cena rio grandense do sul e venceram em 2005 o festival Claro Que é Rock. Disponibilizam em sua página 6 faixas de seu primeiro disco. A banda Superguidis também vem do RS e é apontada como uma das melhores da cena independente. Fazem um som à lá Weezer ou Pavement e já conquistaram vários prêmios importantes. O Superguidis me fez lembrar o Sonic Youth, influência assumida de uma outra excelente banda chamada Ludovic, nascida na cena punk de São Paulo no início desta década. Também já levaram grandes prêmios e vêm ganhando uma legião de fãs.

APROVEITANDO O BONDE, aproveitei para conhecer as novas de duas bandas que não ouvia há algum tempo: Autoramas e Bidê ou Balde. A primeira já é consagrada no mercado independente, com mais de dez anos de carreira e 4 bons discos lançados. Os Autoramas jé tem turnê internacional e estão com um videoclipe novo da sua excelente música atual de trabalho [veja AQUI]. O rock'n'roll dos sulistas do Bidê ou Balde continua com a mesma alegria, e o mais recente disco está mesmo muito interessante. Eles participaram recentemente do projeto Acústico MTV Bandas Gaúchas juntamente com Cachorro Grande, Ultramen e Wander Wildner.

DISCORDO COMPLETAMENTE com aqueles que dizem que o rock nacional anda de mal a pior: é que as boas bandas não estão na grande mídia, e esse é justamente o gostinho especial que faz o paralelo mundo independente tão saboroso. Para conhecer ainda mais, confira o rock alcoólatra do Rock Rocket, o grunge de viola do Zefirina Bomba e o punk do Forgotten Boys.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

O "homem" por trá do Führer

HÁ ALGUNS DIAS, na casa de duas estimadas amigas, assistimos a um filme que fazia referências à Segunda Guerra. Surgiu uma pequena conversa acerca da personalidade de Hitler, o principal personagem deste conflito que chegou a matar 50 ou 60 milhões de pessoas. O que estaria por trás do caráter desta figura tão vil? Quais teorias explicam o seu obstinado anti-semitismo? Sei apenas que o tema possivelmente nunca será devidamente explicado, e que encontrei algumas hipóteses interessantes, que até então desconhecia. Alerta importante: este artigo não procura apontar motivos ou razões para as ações diabólicas de Adof Hitler. Aprendamos com o seu grande erro.

ORIGENS: Alguns dizem que ele próprio tinha sangue judeu, uma vez que sua avó trabalhava para uma família judia. Ela teria ficado grávida do filho mais novo dos patrões, que lhe deram uma pensão até que a criança completasse 14 anos. O certo é que ele não nasceu na Alemanha, mas na Áustria, e em 1938 ordenou a destruição da aldeia de onde proviam seus pais e avós. Anos antes ele havia dito a alguns inimigos políticos: "vocês não podem saber de onde e de que família eu venho".

FRUSTRAÇÕES: Seu fraco desempenho escolar o fez abandonar aos 16 anos o colegial, indo então à capital Viena tentar entrar para a Academia de Artes Gráficas, mas foi rejeitado (há relatos de que haviam judeus no setor artístico desta escola). Sem emprego fixo, passou vender quadros de paisagens de Viena, o que lhe permitiu alugar um apartamento (saindo então do asilo para mendigos aonde esteve hospedado). Contam que ele pegou sífilis de uma prostituta judia nesse período. Sua mãe morreu de câncer quando ele tinha 18 anos e talvez Hitler tivesse atribuído a culpa ao médico judeu da família.

SEXUALIDADE: Acusações recentes afirmam que Hitler era homossexual e circulava pontos de encontros gays em Viena. Teria sido visto na Primeira Guerra Mundal fazendo amor com um companheiro nas trincheiras (ele era mensageiro do exército alemão e nunca foi promovido). Teria se envolvido, contudo, com sua sobrinha Geli Raubal, que era forçada a fazer uma série de perversões que envolvia fezes e sadomasoquismo. Ela cometera suicídio durante uma viagem de Hitler, mas há quem atribua sua morte ao tio, pois ela havia encontrado uma amante judeu.

OUTRAS CURIOSIDADES: Sofria de fotofobia e mal de Parkinson; era vegetariano; não bebia café ou bebidas alcoólicas; era canhoto (ou ambidestro); aficcionado em arquitetura; aspirante a pintor; inteligente e mal humorado na infância; e talvez fosse monorquídico (um só testículo).

O IMPRESSIONANTE FOI a sua incrível ascensão, partindo de um jovem frustrado e chegando à presidência de uma Alemanha arrasada e humilhada após a primeira guerra. Mas como conseguiu o apoio de toda uma nação inteira para realizar os seus sórdidos ideais? Ora Hitler era dono de uma temível eloquência. Seus discursos mais pareciam uma conversão religiosa, levando alguns ouvintes até mesmo às lágrimas. E uma gigantesca campanha publicitária também ajudou na promoção deste monstro. Confira a seguir um exemplo da magnitude de seus discursos neste vídeo legendado (para saber mais, leia a excelente matéria de capa da Superinteressante publicada em novembro de 2003 ou o artigo da maior enciclopedia digital, a Wikipédia):

sábado, 19 de abril de 2008

Top 10: As imagens mais famosas do mundo

ALGUMAS IMAGENS tornam-se históricas. Ajudam a gravar momentos, deixar o autor ou um personagem famoso, revelar momentos incomuns, imortalizar heróis, exaltar uma nação e provocar orgulho ou espanto. A lista a seguir numera as dez maiores fotografias de todos os tempos. Estão presentes importantes momentos e ausentes mais uma dezena de registros não menos importantes, que podem ser conferidos no site World's Famous Photos ou no livro 100 Photographs that Changed the World. É como dizem, uma imagem vale mais que mil palavras. Então vamos a elas (clique para visualizá-las ampliadas):

01 GUERRILHEIRO HERORICO
Esta é, simplesmente, a imagem mais reproduzida de toda a história da humanidade, conhecida como "Guerrilheiro Heróico". Foi fotografada por Alberto Korda em 05/03/1960 e permanece até hoje como um símbolo de rebeldia.
02 ALBERT EINSTEIN
"- Um sorriso para vosso aniversário, professor". Este foi o pedido que Artur Sasse fez a Einstein para tirar uma foto no dia em que estava completanddo 72 anos (14/03/1951). O resultado você já sabe: tornou-se um ícone mundial.


03 ALÇANDO A BANDEIRA EM IWO JIMA
A fama desta imagem, tirada em 23/02/1945 por Joe Rosenthal durante a Segunda Guerra Mundial, fez com que o autor ganhasse o prêmio pulitzer de fotografia. A cena mostra cinco marinheiros e um médico erguendo uma bandeira dos EUA no alto de um morro.
04 HOMEM DO TANQUE OU REBELDE DESCONHECIDO
Esta cena de um jovem desconhecido que enfrenta sozinho uma fila de 59 tanques chineses durante o Protesto na Praça da Paz Celestial em 05/06/1989 foi fotografada por Jeff Winderner e saiu capa de inúmeros jornais.

05 ESPREITANDO A MORTE
O autor Kevin Carter ganhou o cobiçado Pulitzer de fotografia ao registrar o sofrimento de uma menina sudanesa se esforçando para chegar ao centro de alimentação, enquanto um abutre a espreitava. Foi publicada em 23/03/1993 pelo New York Times, e Carter se suicidou um ano depois.
06 INCÊNDIO DO HINDENBURG
O incêndio do gigantesco dirigível LZ 129 Hindenburg (na época, o maior do mundo) em 06/05/1937 matou 36 pessoas e acabou com a era dos dirigíveis na aviação comercial de passageiros. A imagem apresentada foi fotografada por Sam Shere.


07 NAPALM GIRL
Esta certamente é a imagem mais marcante da Guerra do Vietnã. A menina Phan Thi Kim Phúc teve as roupas consumidas pelas chamas após um bombardeio, registrado por Huynh Cong Ut (conhecido como Nick Ut) em 08/06/1972. Atualmente Kim Phúc é embaixadora da UNESCO.
08 REICHSTAG
Esta foto de Yevgeny Khaldei (02/05/1945) mostra os soldados da antiga União Soviética colocando uma bandeira (que na verdade era um pano de mesa vermelho) sobre o telhado do Reichstag na devastada Berlim. Foi modificada também para ocultar os 2 relógios que o soldado carregava num único punho (provável furto).


09 ABBEY ROAD
A capa desde disco dos Beatles deixou famosa a rua do histórico estúdio Abbey Road. A cena mostra os quatro rapazes de Liverpool atravessando a avenida numa faixa de pedestres. Foi fotografada por Iain MacMillan em 08/08/1969 e copiada por muitos outros.
10 SURGEON'S PHOTO
Nessie, ou O Monstro do Lago Ness, é uma criatura que possivelmente viveria num grande lago da Escócia. O primeiro registro vem do século VI. Marmaduke Wetherell, em 1994, confessou ter falsificado esta foto que data de 19/04/1934. Foi primeiramente atribuída ao cirurgião Dr.R.K. Wilson, o que daria mais credibillidade ao registro.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Memórias de Minhas Putas Tristes

FOI COM UMA GRANDE satisfação que comprei numa loja de livros usados uma edição de Memórias de Minhas Putas Tristes (2004). O exemplar estava novíssimo e possivelmente tivera antes de mim apenas um dono. Nenhuma orelha, arranhão na capa ou risco de lápis ou caneta. Há alguns dias antes havia começado a leitura de Cem Anos de Solidão (1967), romance mais famoso deste mesmo autor chamado Gabriel García Marquez, vencedor do Nobel de Literatura de 1982. Interrompi imediatamente a leitura de Cem Anos... para devorar minha mais nova aquisição.


A OBRA É DIVIDIDA EM cinco pequenos capítulos com um total de 130 páginas apresentadas em letras grandes. Comparado ao outro livro citado, este mais parecia um conto. E é bom que assim mesmo seja, porque a história não é algo que merecesse ser estendida. Para ser direto, Memórias de Minhas Putas Tristes é uma narrativa em primeira pessoa da vida de um jornalista de noventa anos que, para comemorar sua maravilhosa idade, resolve presentear-se com uma noite de amor com uma menina virgem. Ele, no entanto, acaba-se apaixonando pela jovenzinha que o recebera dormindo na cama do bordel. Sim, é mais um romance no estilo “ancião e ninfeta”.
A INTENÇÃO DO LIVRO é mostrar que nunca é tarde para ser feliz, focando-se no primeiro amor do velhusco, chegado somente no fim de sua pobre vida deprimente. O ponto alto da obra é justamente esta auto-reflexão que o personagem faz sobre sua jornada que só agora encontra algum sentido:

“A casa renascia de suas cinzas e eu navegava no amor de Degaldina com uma intensidade e uma felicidade que jamais conheci em minha vida anterior. Graças a ela enfrentei pela primeira vez meu ser natural enquanto transcorriam meus noventa anos. Descobri que minha obsessão por cada coisa em seu lugar, cada assunto em seu tempo, cada palavra em seu estilo, não era o prêmio merecido de uma mente em ordem, mas, pelo contrário, todo um sistema de simulação inventado por mim para ocultar a desordem da minha natureza. (...) Descobri, enfim, que o amor não é um estado da alma e sim um signo do zodíaco.”

A NATURALIDADE COM que o autor expõe o tema chega a incomodar o leitor que não procurava certa obscenidade no romance, como no trecho que tratei de transcrever:

“Olhou-me nos olhos, mediu minha reação ao que acabava de me contar, e disse: Então, vá correndo procurar esta pobre criatura mesmo que seja verdade o que dizem os seus ciúmes, não importa, o que você viveu ninguém rouba. Mas, isso sim, sem romanticismos de avô. Acorde a menina, fode ela até pelas orelhas com essa pica de burro com que o diabo premiou você pela sua covardia e mesquinhez. De verdade, terminou ela com a alma: não vá morrer sem experimentar a maravilha de trepar com amor.”

MINHA IMPRESSÃO FINAL é esta: entre altos e baixos, Márquez consegue ser apenas bom, sem arrancar maiores elogios. Não é um livro que eu reiniciaria a leitura, e possivelmente venderia de volta à loja de onde comprei, devolvendo-o sem nenhum rabisco, que geralmente costumo fazer circulando ou marcando os trechos que mais me fascinam.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Um Espirro


TRANQUEI-ME NO QUARTO escuro em busca de novas perguntas e da mesma coragem inimiga de sempre, à espera de alguém com uma mão estendida e um abraço sincero guardado de presente. Quando se está em busca de auto compreensão é necessário assumir que há algo de errado contigo. Deprimir-se para poder escrever é como drogar-se para fazer arte, ou uma forma de mentir para si mesmo. Toda forma de arte deveria ser gratuita. Do contrário, mais parece uma prostituição. Logo, a maioria dos artistas são infames meretrizes. Quando relemos antes de concluir um trabalho é porque há insegurança nas palavras, e quando escrevemos prá nós mesmos produzimos o que melhor conseguimos compor. No entanto, há inúmeros exemplos de obras primas escritas para qualquer outro alguém − na maioria das vezes, uma musa capaz de provocar o amor. Na verdade nunca amei corretamente nem ouvi nenhuma declaração amorosa. Meus verdadeiros amigos eu consigo contar nos dedos de talvez uma única mão apenas. E que seja a mão esquerda, que é mais próxima ao coração, que é órgão figurado do sentimento. Enfim, não sei o propósito destas linhas confusas e miscigenadas. Talvez um desabafo idiota. Este texto é apenas um espirro. É um desejo de liberdade. É um comichão inconsciente. É uma carta de amor inusitada. Ah, se você pudesse entrar em minha mente. Então encontraria apenas espelhos com seu reflexo gravado neles.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Top 10: Melhores desenhos violentos ou politicamente incorretos

QUANDO O TEMA É violência nos desenhos animados, há sempre aquela discussão sobre a influência que podem exercer sobre as crianças, que são os maiores telespectadores deste tipo de entretenimento, ficando em média 4 horas diárias em frente à televisão (o que equivale ao tempo que ficam na escola). O fato é que os personagens politicamente incorretos existem há décadas. Se você quiser descobrir na prática se esses desenhos corrompem crianças, basta perguntar a seus pais se foram negativamente influenciados por séries como Tom e Jerry ou Manda-Chuva, que passam desde a década de 60. Eles na certa negarão.



ACHO ESSA DISCUSSÃO completamente inútil, bem como aquele bla-bla-bla sobre mensagens subliminares presentes em produções da Disney, por exemplo. Se for para apontar um culpado, prefiro condenar as famílias mal estruturadas. Estas sim são capazes de formar bandidos ou assassinos, colocando em nossas crianças um caráter “mau como o Pica-Pau”, como dizem por aí.

FORJEI UMA PEQUENA lista de 10 grandes clássicos que contém personagens ou enredos mal intencionados. Certamente você conhece a maioria deles:

1. Tom e Jerry [Tom and Jerry, Hanna-Barbera] desde 1940 – O gato sempre acaba esfolado ou decepado. Quando se irrita de verdade, saca uma espingarda para perseguir o provocativo rato, munido de um grande desejo de vingança.
2. Pica-Pau [Woody Woodpecker, Universal Studios] desde 1940 – O protagonista é uma ave inicialmente que vai ao médico receber tratamento. Tornou-se um brincalhão mau-caráter e trapaceiro, fazendo de tudo para matar sua fome.
3. Papa Léguas [Road Runner, Looney Tunes] desde 1949 – O Coiote está sempre caindo de penhascos, sendo atingido por objetos pesados, atropelado ou se explodindo.
4. Os Simpsons [The Simpsons, Fox] desde 1989 – Esta popular família conta com um pai idiota e um filho que apronta de todas, como humilhar o diretor de sua escola. Destaque para o programa preferido de Bart: Comichão e Coçadinha, uma sátira sangrenta de Tom e Jerry.
5. Piu-Piu e Frajola [Sylvester and Tweety, Looney Tunes] desde 1940 – Segue a mesma fórmula de perseguições e situações dolorosas. Frajola caça o passarinho simpático ou o rato mexicano, usando inclusive armas de fogo.
6. Pernalonga [Bugs Bunny, Looney Tunes] desde 1939 – O protagonista é um coelho esperto que sempre escapa das caçadas realizadas pelo Hortelino ou Eufrazino, que carregam uma espingarda nas mãos. Há quem olhe com maus olhos quando o Pernalonga se veste de mulher.
7. Manda-Chuva [Top Cat, Hanna-Barbera] desde 1961 – O desenho é sobre uma gangue de gatos de rua que vivem nos becos de Manhattan. Estão sempre fazendo armações para se darem bem e fugindo da polícia.
8. Corrida Maluca [Wacky Races, Hanna-Barbera] desde 1968 – A série se resume a uma competição dos mais variados automóveis. Destaque para o Dick Vigarista, que jamais conseguiu vencer uma corrida e sempre tentava sabotar seus adversários.
9. Pato Donald [Donald Duck, Disney] desde 1934 – O pato mais conhecido dos desenhos animados não é o que se pode chamar de carismático, principalmente quando é passado prá trás pela dupla Tico e Teco.
10. Zé Colméia [Yogi Bear, Hanna-Barbera] desde 1958 – O faminto urso ocupa-se em roubar as cestas de piquenique dos turistas, junto de seu companheiro Catatau, dando trabalho ao pobre guarda florestal do parque.

SENTINDO A FALTA DE desenhos como South Park na lista? Ele não foi esquecido e certamente estaria no topo se eu não tivesse limitado a lista até a década de 80. De lá prá cá a coisa ficou bem mais explícita e violenta, como pode ser conferido no vídeo abaixo, da série Happy Tree Friends (semelhante a Comichão e Coçadinha). O diferencial deste desenho apresentado é que raramente a violência é intencional por parte dos personagens: a carnificina acontece devido a uma série de outros acontecimentos.

quinta-feira, 13 de março de 2008

O Apanhador No Campo de Centeio

O APANHADOR NO CAMPO de Centeio (The Catcher in the Rye, 1951) é uma daquelas obras que não podem faltar em nossa estante. Histórico e polêmico, pode-se dizer que o livro inventou a adolescência, uma vez que até a década de 50 os jovens eram encarados de uma forma completamente errônea: ou eram somente crianças ou já eram considerados adultos. Ao escrever o romance, J. D. Salinger deu uma identidade a essas complexas criaturas e acabou influenciando toda uma geração que modificou o mundo na década posterior. Os hippies pré-setentistas que o digam.

CONFESSO QUE FUI COM muita sede ao pote quando iniciei a leitura. A maneira simples e direta com que Salinger narra a saída do jovem menor de idade Holden Caufield de seu terceiro colégio, aquele “cheio de cretinos e sujeitos perversos” me deixou um tanto decepcionado. Talvez eu esperasse uma maior rebeldia por parte do personagem pelo fato de ter se tornado uma referência para os jovens da era pré-rock and roll, mas o fato é que ele era devidamente rebelde para a época. Até aquele momento, nenhum outro autor havia analisado tão profundamente a alma destas crianças-quase-adultas. Utilizando-se de inúmeras gírias, traça um roteiro aparentemente sem rumo, entrando em temas completamente distintos à medida que se iniciava outro pensamento. Uma espécie de Joyce ou Kafka para adolescentes.
É NECESSÁRIO ESTAR mesmo muito deprimido para escrever um livro como estes, e talvez o seu autor fosse sempre assim. Seu best seller vendeu milhões de exemplares em apenas dois anos, transformando Salinger numa espécie de astro. Conta-se que Bob Dylan fugiu de casa várias vezes inspirado nele. De qualquer forma, é sabido que Salinger renunciou às glórias literárias e decidiu-se por viver isolado numa casa no topo de uma montanha. As vendas de seus livros tiveram um grandioso salto com a trágica morte de John Lennon, assassinado por um fã descontrolado. Mark David Chapman, dono da arma calibre 38 que tirou a vida do ex-beatle, carregava consigo uma edição do Apanhador No Campo de Centeio e dizia obedecer a vozes em sua cabeça.
O LEITOR SE DEPARA com a estória de um irritante jovem virgem e depressivo, insatisfeito com praticamente tudo ao seu redor. Contudo, à medida que avançamos na leitura, começamos a encontrar algumas passagens que nos deixarão mais tarde, ao chegar às últimas páginas, com um generoso sentimento de satisfação. O ponto alto da obra de Salinger está no mau-humor de Holden, que odeia cinema e é incapaz de ligar para a garota por quem é perceptivelmente apaixonado. Seu estado depressivo o leva a pensar em suicídio e a desejar se passar por surdo-mudo, para que não precisasse ter “nenhuma conversa imbecil e inútil com ninguém”. No decorrer da narração, é chamado de bobalhão por uma prostituta, de estranho pelo professor que ele julga ser “veado” e de imaturo por um amigo intelectual seu, o que o faz cair cada vez mais na mais assustadora depressão. É um fumante compulsivo em alguns trechos e costuma mentir sobre sua idade para conseguir beber nos restaurantes que freqüenta, mas não chega a ser um rebelde ao pé da letra. Phoebe, a irmãzinha de Holden, acaba roubando a cena no rumo final do romance, roubando o verdadeiro cargo de heroína, uma vez que o protagonista está mais para um enlouquecido vilão.
A LEITURA DO LIVRO não é recomendada para jovens imaturos, pois tem a capacidade de transportar o leitor para o mesmo estado de espírito de Caufield. Contudo, é um estudo obrigatório. É preciso cair na fossa para observar com cautela as imundícies presentes em cada momento de nossa vida cretina, idiota e sem sentido.

sábado, 8 de março de 2008

O Lado Bom de Calvin (parte 3 de 3)

ESTREMAMENTE CRIATIVO o final da história: Quando o lado bom do Calvin tem um pensamento maligno, desaparece de vez. Como diz o Haroldo, "é a única pessoa cujo lado bom é dado à maldade". Ser bonzinho demais não dá mesmo certo...


domingo, 2 de março de 2008

O Lado Bom de Calvin (parte 2 de 3)

É MUITO INTERESSANTE quando a "manifestação física de seu lado bom" tenta ser gentil com a Susie. O verdadeiro Calvin fica desesperado consigo próprio. E é muito impressionante imaginar como a sua cabeça consegue fantasiar tamanha história apenas com uma caixa de papelão. Quem dera as nossas crianças do século 21 conseguissem se divertir com coisas tão simples. Oh, sim. Falta um pouco de Calvin em cada uma delas.