sábado, 27 de setembro de 2008

Invisível


Ainda me lembro do que ele ma chamou. Covarde inútil. Se eu já estava pra baixo, as palavras do capitão me jogaram de vez no chão. Mas talvez seja mesmo verdade. Minha missão já caminha rumo ao fracasso desde o seu princípio. Eu me iludi e enganei ao mesmo tempo aqueles que um dia já acreditaram em mim. O acaso acertou em cheio o meu estomago. Quiçá tenha sido esta a razão de meu vômito, que derramei novamente em meu velho caderno.

Eu tentei entrar na mente dela e acabei afastando-a de mim mais uma vez. Ainda não aprendi a abdicar dos recursos proibidos que possuo. Procurei me afastar de todos e percebi que não era necessário, uma vez que nunca estive verdadeiramente acompanhado. Se eu sumir, ninguém perceberá o ocorrido, uma vez que ninguém procurou saber sobre mim enquanto estive recluso. Como podemos sentir falta de alguém que nunca esteve conosco? Alguns sentimentos adquiridos ainda me são incompreensíveis.

Meu comunicador já não dá sinal de vida há tempos, mas sei que ainda funciona perfeitamente. Da última vez em que o utilizei respondi ao capitão que me cobrava um relatório dos acontecimentos, e isso já faz meses. O curioso é que estou sempre disponível, mas todos fingem não me ver. Talvez até deva discursar sobre essa indesejada habilidade em meu próximo ofício, o que poderá chamar a atenção de alguns.

Ele me pediu que eu sorrisse. E é o que eu tenho feito desde então. Este soldado nunca pareceu tão socializável. Esconder as mágoas, no entanto, é uma árdua tarefa, e uma recaída poderá a todos surpreender. “O que aconteceu com ele? Parecia tão bem...”

Ilusão. Ninguém responde à despedida de um fantasma uniformizado.

sábado, 20 de setembro de 2008

Laerte

Mais algumas tiras interessantíssimas do Laerte (publicadas em 30/08, 03/09 e 13/09/2008, respectivamente):



sábado, 6 de setembro de 2008

Realidades paralelas

Bons filmes são aquele em que você olha constantemente a sua duração e torce para que não acabe logo. Havia certo tempo que não me ocorria isso, até assistir Efeito Borboleta (The Butterfly Effect, 2004). Sim, eu já sabia que era um excelente filme, mas não sei por que nunca havia assistido... O roteiro gira em torno daquela vontade que todos temos de voltar no tempo e consertar alguma coisa que deu errado, alterando a nossa atual realidade. Simplesmente fantástico.

Outro filme interessantíssimo que fala acerca de realidades paralelas é Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças (Eternal Sunshine of the Spotless Mind, 2004), um verdadeiro clássico moderno aonde Jim Carrey vai a uma clínica a fim de apagar algumas lembranças que o atormentavam, mas acaba se arrependendo do que havia feito Abre los ojos (1997), produção européia que originou a cópia Vanilla Sky (2001), também gira em torno da “modelagem” de lembranças. Neste filme, contudo, a criação da realidade falha e o nosso anti-herói se vê em um pesadelo, aonde deveria existir apenas um sonho. Não devemos nos esquecer do elogiado Amnésia (Memento, 2000), cujo protagonista tem um problema em sua memória recente e tenta investigar o assassinato de sua mulher, reconstruindo passo a passo os fragmentos de suas desconcertantes lembranças.

Falando em volta no tempo e mudança de personalidade eu me lembrei da música “O Velho e o Moço”, de Los Hermanos, que tem uma letra impecável. Vou transcrevê-la aqui (clique no play para ouvir a música e acompanhar a letra):

Deixo tudo assim, não me importo em ver a idade em mim / Ouço o que convém / Eu gosto é do gasto / Sei do incômodo e ela tem razão quando vem dizer que eu preciso sim / De todo o cuidado // E se eu fosse o primeiro a voltar pra mudar o que eu fiz / Quem então agora eu seria? // Ahh tanto faz! E o que não foi não é / Eu sei que ainda vou voltar... / Mas, eu quem será? // Deixo tudo assim, não me acanho em ver vaidade em mim / Eu digo o que condiz / Eu gosto é do estrago / Sei do escândalo e eles têm razão quando vem dizer que eu não sei medir nem tempo e nem medo // E se eu for o primeiro a prever e poder desistir do que for dar errado? // Ahhh, ora, se não sou eu quem mais vai decidir o que é bom pra mim? / Dispenso a previsão / Ahhh, se o que eu sou é também o que eu escolhi ser, aceito a condição // Vou levando assim / Que o acaso é amigo do meu coração / Quando falo comigo, quando eu sei ouvir... (letra de Rodrigo Amarante)