terça-feira, 17 de junho de 2008

Eu sou um rato

A SOLIDÃO DOS poetas deve ser algo verdadeiramente mortificante. Isolados eles produzem mais. Escrever é uma tarefa por si só, solitária. Até parece existir alguém maior que priva estes sofredores dos outros para que fabriquem aquilo que gosta de ler. Um pássaro canta um pranto pela liberdade e alegra alguns outros com a sua melancólica melodia.



EU SOU UM RATO
que se esconde por detrás de uma parede quando alguém ilumina o meu refúgio, pois o lugar mais sombrio é mesmo embaixo da luz. Eu sou uma barata que teme ser esmagada pelo mundo e só mostro o meu semblante úmido quando não há nenhum perigo por perto, porque sou covarde. Covarde como um grilo que cessa o seu ruído ao ser descoberto, fugindo com as suas longas pernas esbranquiçadas em busca de um novo esconderijo. Às vezes eu só queria poder voar. Às vezes é tudo o que penso: voar para bem longe.

ESTOU EM UMA
multidão. Não consigo abrir os braços ou caminhar sem esforço. Ficar imóvel é lutar para não ser carregado. Mesmo em meio a esse movimento, locomover-se se torna uma árdua tarefa. Eu quero sair. Chegar ao outro lado. Mas a correnteza me leva para um outro destino, consumindo meus calçados e rasgando a minha camisa em meio aos atritos. Meus membros já não me obedecem. Estou desesperado e ninguém é capaz de ouvir o meu grito. E então, como que de repente, a multidão se duplica e me comprime o peito. Já não consigo respirar, e à medida que crescem minha solidão se multiplica. Eu só quero estar sozinho.

SE VOCÊ FOSSE
um pássaro que nasceu enclausurado, para onde iria após ser liberto? Desejo alguém do meu lado. Alguém que enfrente comigo a claridade da estrela. Que me forje asas de cera para poder fugir deste confuso labirinto ancestral. E se for para ser um rato de asas, me chame de morcego.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Entrevista de emprego

É BEM DIVERTIDO este vídeo que encontrei em um outro blog. Do que se trata? Mostra com muito humor o que você não deve fazer numa entrevista de emprego. Geralmente, são tratadas como "infrações": falar em demasia; franzir a testa em demasia; discordar em demasia; ser dogmático; mostrar impaciência; ser emotivo; ignorar perguntas; mudar de assunto de repente; desviar o olhar do entrevistador por muito tempo; ou contar piadas (para saber mais, clique aqui). Mas aqui essas regrinhas não são levadas nada a sério:

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quarta-feira, 4 de junho de 2008

Aquele guerreiro invisível

Mas eu ainda tento escrever / Os tremores não me impedirão / Quanto ao acaso, dele sou brinquedo

Eu senti, juro que senti / O abraço das Graças a me envolver / Ainda não é hora de chorar / Eu não quero te iludir / Devo confessar-lhe: o perigo me cerca / Meu escudo está rachado / Eu revelo agora meu frágil coração / Entrego ele em suas mãos

Abra, abra as portas de tua casa / Mostre-me quem você é / A sua coleção de cabeças na parede / Os teus animais empalhados / As suas lanças ainda ensangüentadas / Os teus cálices sagrados / As oferendas ao teu deus sombrio

Abraçe-me novamente / Enquanto a viagem ainda se inicia / O caminho aqui é perigoso / Mas aquele dragão já não vive mais / Tenho-o ainda na lembrança / E na ferida em meu peito / Ela não consegue cicatrizar / Ela não consegue mais nada

Veja o meu rosto e toque a minha face / Tente reconhecê-lo só por um instante / Tente, mesmo que seja tarde / A minha esperança é imortal / E minha paciência monstruosa / Nem o teu porteiro, o Gigante de Metal / Nem mesmo ele conseguirá me deter

Aquela luz por pouco não me cega / Ela surgiu de repente, como deve ser / Não julguei estar preparado / Mas me entreguei de braços abertos / Observe a minha armadura, guerreiro / Ela reflete o teu semblante: / É preciso pensar várias vezes / Antes de tentar me ferir

A sua capa não era vermelha / Mas agora ela reflete a sua glória / Ainda que seja inútil

(Giuseppe Menezes, setembro de 2005)