sexta-feira, 23 de outubro de 2009

O Grande Gatsby


NÃO ME SURPREENDI nem tampouco me encantei pelo livro de F. Scott Fitzgerald ao ler O Grande Gatsby, sua obra prima. Na verdade este é o segundo grande clássico da literatura norte-americana que me desaponta – o outro foi O Sol Também se Levanta, de Ernest Hemingway. Não sei se é devido ao fato de que eu prefiro as obras do velho mundo, mas confesso que esperava muito mais deste que conquistou o segundo lugar na lista dos Cem Melhores Romances em Língua Inglesa do Século XX, superado apenas pelo Ulysses de James Joyce.

A HISTÓRIA DE ASCENSÃO de Jay Gatsby, em meio a um triângulo amoroso, é contada por um personagem que não participa muito dos acontecimentos, Nick Carraway, que acaba por se tornar o melhor amigo deste notável sujeito. A impressão que tive foi de que Gatsby foi trazido na marra por Carraway à posição de protagonista, uma vez que sua personalidade morta e sem muitas características foi incapaz de despontar neste papel. Nick não tem um grande amor, um grande emprego, uma grande casa, uma grande rede de amigos, nem uma história para contar: ele é o completo oposto de Gatsby, e talvez se a obra tivesse outro título poderia bem se chamar O Pequeno Carraway.

O ROMANCE É REALMENTE bem conduzido pelas mãos do autor e tem a sua melhor fase narrativa no último capítulo, onde nos deparamos com um personagem entristecido e abalado com um fato trágico, trazendo à tona a sua vida sem sentido – quem sabe um reflexo das confusas e loucas primeiras décadas do século XX norte-americano:

“Este é o meu Meio-Oeste – não trigo ou as pradarias ou as cidades suecas perdidas, mas os trens vibrantes de volta para casa da minha juventude e os lampiões de rua e os sinos de trenó na escuridão gelada e as sombras das grinaldas de azevinho lançadas sobre a neve através das janelas iluminadas. Sou um pouco solene com o sentimento daqueles longos invernos, um tanto complacente por ter crescido numa casa dos Carraway numa cidade em que as casas ainda são chamadas ao longo das décadas pelo nome de uma família”.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

O Lírio do Vale


INICIEI A LEITURA DE O Lírio do Vale, de Balzac, no mesmo dia em que terminei O Vermelho e O Negro, de Stendhal, sem saber da grande semelhança entre as duas obras. Ambas foram escritas na mesma década (1836 e 1830, respectivamente) e país (França), trazendo o mesmo tema no contexto geral do romance: o envolvimento entre um jovem inteligente e inocente rapaz com uma bela senhora mais velha [!] (mãe de dois filhos, casada com um grande senhor [!!]); e com outra igualmente bonita e distinta dama solteira [!!!] (munida de uma paixão mais fervorosa que a primeira [!!!!]), que acaba por provocar um trágico final ao triângulo amoroso [!!!!!].

O LÍRIO DO VALE faz parte de A Comédia Humana, título geral que dá unidade à obra máxima de Honoré de Balzac, composta por 89 romances, novelas e contos. Félix Vandenesse, um adolescente de aparência infantil movido por uma paixão repentina num festejo popular, rouba o beijo de uma senhora que mais tarde ele descobriria se tratar da respeitável condessa de Clochegourde, mulher do sr. de Mortsauf e mãe de duas crianças. Uma história de amor se inicia entre eles quando o jovem se torna amigo íntimo da família e passa a frequentar constantemente o castelo daquela que ele passa a chamar de Henriette. O trabalho o leva à capital francesa e lá Félix conhece a sensual Lady Arabelle Dudley, que se transforma num obstáculo para a continuação do amor platônico entre ele e a sra. de Mortsauf.

O LIVRO É ESCRITO EM forma de uma carta de Félix à condessa Natalie de Manerville e não é subdividido em capítulos. Esta poderosa narrativa de Balzac descreve com detalhes o cenário campestre/rural aonde a trama de desenvolve e ao contrário de O Vermelho e O Negro, este sim, é rico em sentimentalismo e grandiloquência.

Trecho: “O homem é composto de matéria e espírito, nele a animalidade termina, nele o anjo começa. Donde essa luta que todos nós sentimos entre um destino futuro que pressentimos e as lembranças de nossos instintos anteriores dos quais não estamos totalmente desligados; um amor carnal e um amor divino. Um homem junta-os num só, outro se abstém de ambos, este resolve o sexo inteiro para nele buscar a satisfação de seus apetites anteriores, aquele o idealiza numa só mulher na qual se resume o universo, uns pairam indecisos entre as volúpias da matéria e as do espírito, outros espiritualizam a carne pedindo-lhe o que ela não conseguiria dar. Se, pensando nesses traços gerais do amor, você levar em conta repulsas e afinidades que resultam da diversidade das organizações, e que rompem os pactos firmados entre os que não enfrentam provas; se a isso você acrescentar os erros causados pelas esperanças das pessoas que vivem mais especialmente do espírito, do coração ou da ação, que pensam, sentem ou agem, e cujas vocações são contrariadas, desconhecidas numa associação em que em que se encontram duas criaturas igualmente duplas, você terá uma grande indulgência pelas desgraças com que a sociedade se mostra impiedosa”.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

O Vermelho e O Negro


TINHA O VERMELHO E O Negro em casa desde sempre guardado na coleção de livros de minha mãe, mas nunca foi despertado em mim nenhum interesse em lê-lo até descobrir que ele aparecia em algumas das várias listas que encontrei de maiores clássicos da literatura. Ao pesquisar o autor, Stendhal, logo me veio à lembrança que eu já havia lido uma outra obra sua: uma biografia de Mozart que vinha impressa em forma de revista junto de um cd do compositor que eu comprara há alguns anos numa banca de jornais. O livro se passa no período da restauração napoleônica e retrata a França do século XIX. Embora produzida em pleno Romantismo, a obra de Stendhal se mostra isenta de sentimentalismo e grandiloquência. É ligeiramente cansativa e grande em demasia, mas é dividida em capítulos curtos que facilitam a leitura.

A seguir, apresento um curto resumo (contém Spoilers):

O ROMANCE NARRADO EM terceira pessoa e escrito em 1830 constitui uma de suas obras-pimas e conta a história do jovem Julien Sorel, latinista, cristão devoto e polido filho de camponês que passa a trabalhar por ordem do pai como preceptor das crianças do Sr. de Rênal, prefeito da bela, pequena e francesa cidade de Verrières. Em pouco tempo ele se vê atraído pela sua linda patroa, que progressivamente vai-lhe retribuindo o afeto, entrando ambos em um namoro secreto e inocente que se estende por toda a primeira parte do livro. Devido às desconfianças do prefeito, Julien parte para um seminário e deixa para trás a sua amada Sra. de Rênal a quem posteriormente volta para despedir-se antes de partir definitivamente para longe. Este seu retorno a Verrièrres no último capítulo da primeira parte marca um dos momentos mais interessantes da obra.

A SEGUNDA PARTE TRAZ um Julien mais amadurecido e diante de uma nova vida: tornara-se secretário do Marquês de La Mole, “um dos maiores senhores da França” e tentava na medida do possível se acostumar com aquela alta sociedade e com as noites nos salões. Evitava conversar com a filha do marquês, a Srta. Mathilde, que vivia cercada de admiradores e quem ele achava muito orgulhosa, mas sua frieza acabaria por despertar nela um interesse que se metamorfosearia em amor (os capítulo 9 e 10 descrevem bem esta transformação). Viveram um namoro aos tropeços com o orgulho de cada um até o dia em que ela anunciou estar grávida. A Sra. de Rênal reaparece na história no 35º capítulo escrevendo contra a sua vontade uma carta ao Sr. de La Mole aonde diz absurdos sobre Julien, provocando a ira do herói que vai a Verrières tentar sem sucesso assassiná-la. É assim que o jovem Sorel se reconcilia com a sua primeira paixão e morre condenado pelo seu crime, permanecido ainda vivo no coração das duas e do lado do povo, que encontrou naquele caso uma aventura romanesca.