quinta-feira, 15 de maio de 2008

O Retrato de Dorian Gray

“COSTUMA-SE DIZER QUE a beleza é somente superficial. Pode ser que seja. Mas não tão superficial, pelo menos, como o pensamento. Para mim, a Beleza é a maravilha das maravilhas. Só o medíocre não julga pelas aparências. (...) Ah! Aproveite a sua juventude enquanto a tem. Não esbanje o ouro dos seus dias, dando ouvido aos tediosos, tentando melhorar o fracasso sem esperança ou desperdiçando sua vida com ignorantes, com o fútil, com o vulgar. São estes os objetivos doentios, os falsos ideais da nossa época. Viva! Viva a maravilhosa vida sua! Não perca coisa alguma dela. Busque sempre novas sensações. Que nada o atemorize.” [clique na imagem para ver o quadro]


O RETRATO DE DORIAN Gray (1890), de Oscar Wilde, é um romance sobre a corrupção da beleza. Nele, o jovem e belo Dorian possui a dádiva de jamais envelhecer, ao contrário do retrato dele pintado pelo talentoso Basil Hallward, que depositara nesta sua verdadeira obra-prima demasiado de si mesmo, uma vez que se tornara obcecado pelo seu gracioso modelo. A citação acima é de um dos diálogos do mais atraente personagem da trama, Lord Henry Wotton, cujas filosofias influenciam o até então ingênuo Dorian Gray que, ao perceber que a sua figura gravada na pintura de Basil jamais envelheceria, desejou que acontecesse o oposto: “Se eu ficasse sempre jovem, e esse retrato envelhecesse! Por isso – por isso – eu daria tudo! Sim, não há nada no mundo que eu não desse! Daria até a minha própria alma!” E é o que acontece.

O MAIS INTERESSANTE do livro é a maneira como a personalidade de Dorian vai se modelando com o passar do tempo. Acaba se envolvendo em alguns crimes dos quais jamais é suspeito, conservando intocado o seu invejoso semblante juvenil, mesmo no auge de seus quarenta anos. Enquanto isso, a sua alma aprisionada no quadro vai se tornando cada vez mais velha, enrugada e repugnante.

WILDE É AUTOR DE belíssimos poemas e contos, muitos deles sobre a beleza. Há uma inteligente conclusão sua sobre o mito de Narciso, um rapaz que todos os dias ia contemplar o rosto num lago e acabou morrendo afogado (no lugar onde caiu nasceu uma flor, que passamos a chamar de Narciso):

ELE DIZ QUE QUANDO o jovem morreu, vieram Oréiades (deusas do bosque), e viram que a água doce do lago havia se transformado em lágrimas salgadas.
– Por que você chora? – perguntaram as Oréiades.
– Choro por Narciso.
– Ah, não nos espanta que você chore por Narciso – continuaram elas. – Afinal de contas, apesar de todas nós sempre corrermos atrás dele pelo bosque, você é o único que tinha a oportunidade de contemplar de perto sua beleza.
– Mas Narciso era belo? – quis saber o lago.
– Quem melhor do que você poderia saber? – responderam, surpresas, as Oréiades. – Afinal de contas, era em suas margens que ele se debruçava todos os dias.
O lago ficou algum tempo quieto. Por fim, disse:
– Eu choro por Narciso, mas jamais havia percebido que Narciso era belo. Choro por ele porque, todas as vezes em que se deitava sobre minhas margens, eu podia ver, no fundo de seus olhos, a minha própria beleza refletida.

4 comentários:

Ellen Fernandes disse...

Não sei dizer o qto sou apaixonada por Oscar Wilde...ja até citei alguns poemas em meu blog...simplesmente fascinante!!

Tenha um ótimo fds

bjus

Jaquelyne Costa disse...

Wilde...divino escritor.Adoro a leveza, simplicidade com que escreve verdades, são os conselhos mais honrados que já li!!
Maravilhoso,Gepp!!
Cada vez mais eu adoro ler o que você escreve aqui!!
Beijos, meu querido!

Clarissa Santos disse...

É um dos meus favoritos.
Demorei quase um ano para o engolir.

Giuseppe Menezes disse...

Wilde é mesmo o cara!
Sua sensibilidade é sua maior virtude.
Que bom que também são leitoras dele!
=)