segunda-feira, 28 de junho de 2010

Celebração à Solidão

Desarme-se
Você está livre agora
Eu voltarei à minha posição observadora e introspectiva
E então poderá novamente se reservar
Solitária
Ao lado de sua amiga solitária
Todos juntos em uma solidão coletiva
Assim nos sentimos bem
Enquanto nos sentimos sóis
Seu braço pode se posicionar diferente
E suas mãos abertas com os dedos a mirar-me
Em movimentos digitais ebrefechantes
Mas nosso fingimento nos permanece
Nosso egoísmo nos compreende
Nossa solidão nos basta
É que não queremos perder a graça de esperar
Para depois pensar em desembarcar
Vamos ficar assim, então
Juntos enquanto distantes

quarta-feira, 31 de março de 2010

Encontro com o Passado


OUTRO DIA ENTREI EM meu antigo quarto a fim de preencher um imenso vazio. Ele parece um depósito de lembranças adormecidas que se misturam entre cadernos, imagens e demais objetos até então temporariamente perdidos e esquecidos. A poeira, como um agente do tempo, coloca rugas e enferma meus objetos do passado me avisando que um dia tudo aquilo não me fará mais sentido. E se eu esquecesse tudo o que vivi? Um homem viveria o futuro sem o passado? Eu vi cartas e desenhos. Contos e problemas. Coleções absurdas e lembranças de alguns momentos. Um papel dobrado com anotações e uma lista sem sentido. Nomes que não conheço e comerciais obsoletos. Acessórios de um tempo diferente e obsessões hoje sem importância. Encontro escritos datados e planos extraordinários de coisas que nunca cheguei a concluir. Vestes sem uso. Um modelo do que eu deveria me tornar.

EM MEIO A TODO ESTE depósito de lembranças eu vasculho e seleciono o que ainda faz sentido e descarto estratagemas que não mais levarei em diante. E mergulhado nesta piscina melancólica eu traduzo obras que há tempos ninguém lia. Sou eu lendo para mim mesmo um livro que só hoje consigo entender. Meu passado me mostra o caminho a seguir e não me faz esquecer como devo me portar. E por detrás de um pano eu vejo algo em movimento. Foco melhor e reconheço um espelho com o meu reflexo. De tanto vasculhar o meu passado reconheço que o que eu estava tentando encontrar era a mim mesmo. E no plano inverso, no lado oposto a este tempo, um ser ingênuo faz projeções confusas buscando descobrir o que acontecerá consigo quando avançar anos no relógio. Seu quarto, no entanto, ainda não tem poeira alguma.