terça-feira, 15 de abril de 2008

Memórias de Minhas Putas Tristes

FOI COM UMA GRANDE satisfação que comprei numa loja de livros usados uma edição de Memórias de Minhas Putas Tristes (2004). O exemplar estava novíssimo e possivelmente tivera antes de mim apenas um dono. Nenhuma orelha, arranhão na capa ou risco de lápis ou caneta. Há alguns dias antes havia começado a leitura de Cem Anos de Solidão (1967), romance mais famoso deste mesmo autor chamado Gabriel García Marquez, vencedor do Nobel de Literatura de 1982. Interrompi imediatamente a leitura de Cem Anos... para devorar minha mais nova aquisição.


A OBRA É DIVIDIDA EM cinco pequenos capítulos com um total de 130 páginas apresentadas em letras grandes. Comparado ao outro livro citado, este mais parecia um conto. E é bom que assim mesmo seja, porque a história não é algo que merecesse ser estendida. Para ser direto, Memórias de Minhas Putas Tristes é uma narrativa em primeira pessoa da vida de um jornalista de noventa anos que, para comemorar sua maravilhosa idade, resolve presentear-se com uma noite de amor com uma menina virgem. Ele, no entanto, acaba-se apaixonando pela jovenzinha que o recebera dormindo na cama do bordel. Sim, é mais um romance no estilo “ancião e ninfeta”.
A INTENÇÃO DO LIVRO é mostrar que nunca é tarde para ser feliz, focando-se no primeiro amor do velhusco, chegado somente no fim de sua pobre vida deprimente. O ponto alto da obra é justamente esta auto-reflexão que o personagem faz sobre sua jornada que só agora encontra algum sentido:

“A casa renascia de suas cinzas e eu navegava no amor de Degaldina com uma intensidade e uma felicidade que jamais conheci em minha vida anterior. Graças a ela enfrentei pela primeira vez meu ser natural enquanto transcorriam meus noventa anos. Descobri que minha obsessão por cada coisa em seu lugar, cada assunto em seu tempo, cada palavra em seu estilo, não era o prêmio merecido de uma mente em ordem, mas, pelo contrário, todo um sistema de simulação inventado por mim para ocultar a desordem da minha natureza. (...) Descobri, enfim, que o amor não é um estado da alma e sim um signo do zodíaco.”

A NATURALIDADE COM que o autor expõe o tema chega a incomodar o leitor que não procurava certa obscenidade no romance, como no trecho que tratei de transcrever:

“Olhou-me nos olhos, mediu minha reação ao que acabava de me contar, e disse: Então, vá correndo procurar esta pobre criatura mesmo que seja verdade o que dizem os seus ciúmes, não importa, o que você viveu ninguém rouba. Mas, isso sim, sem romanticismos de avô. Acorde a menina, fode ela até pelas orelhas com essa pica de burro com que o diabo premiou você pela sua covardia e mesquinhez. De verdade, terminou ela com a alma: não vá morrer sem experimentar a maravilha de trepar com amor.”

MINHA IMPRESSÃO FINAL é esta: entre altos e baixos, Márquez consegue ser apenas bom, sem arrancar maiores elogios. Não é um livro que eu reiniciaria a leitura, e possivelmente venderia de volta à loja de onde comprei, devolvendo-o sem nenhum rabisco, que geralmente costumo fazer circulando ou marcando os trechos que mais me fascinam.

3 comentários:

Polly . disse...

Este pedacinho "" não importa, o que você viveu ninguém rouba. ""
realmente é a pura verdade
gostei
acho q vou procurar este livro por aki
=)
obrigada por sempre aparecer no meu blog
;***

Anônimo disse...

É claro que A Cidade do Sol não se compara aos clássicos, mas tem seus créditos pelo assunto que trata. Eu diria que ele é muito mais puxado para o lado político do que para a literatura propriamente dita.
O autor fala da opressão do povo afegão de uma forma muito mais intensa do que no primeiro livro, o que às vezes causa um certo desconforto (não seria bem esta a palavra que eu procuro). Mas é assim, se vc leu o outro, este segue a mesma linha. É tão bom quanto. =)

Quanto a este seu aí, hummm... acho que eu não leria tão cedo. heeheh

Irmão de alma disse...

Achei o livro ótimo, o li em uma noite, muito bem elaborado e explicado.
Rodrigo Said.