sábado, 5 de julho de 2008

Trovas de um quase casal

FIQUEI TREMENDAMENTE lisonjeado quando minha adorada amiga blogueira e conterrânea Jaquelyne A. Costa (escritora do excelente blog de poesias Jaque Sou, o Jeito é Ser!) me mostrou um pequeno conto que ela produziu inspirada em meu singelo Diálogo Trovadoresco (postado aqui em 23 de maio). Não sei expressar em palavras o quanto gostei do texto (que transcrevi logo abaixo - com autorização da autora), uma vez que sou grande admirador de seu estilo mágico de escrever.


-Quem te chamou até aqui?
-O amor, minha senhora, esta chama que trago por ti no peito!
-Tolo.
-Oh, minha amada, assim a mim não te dirijas. Suplico-te. Olhes para a lua, veja a prata que nela existe e lembra-te de nossos álacres momentos!
- Sabes que nada sinto por ti, deixe de tuas cretinices!
-...
-Não me exijas...
Ele coloca de súbito a mão em sua boca, interrompendo-a.
-Parcimônia, bela dama! Não te exijo nada além do que me emprestares teu ouvidos.
-Não repita este estúpido gesto!Ora, insolente, tapar-me a boca...
-Não o fiz por mal.
-Imagino...
Ela faz um ar de ironia e cruza os braços.
-Sabes quanto a rosa perde de tua beleza?
-Não! Apenas sei de seus espinhos e o quanto doem em minha pele, e foi isto que destes a mim durante todo este tempo, mentiroso!
-Pois eu sei. Tu, adorável donzela, és mais gloriosa que as estrelas; és mais perfumosa que as rosas e seus botões; és mais formosa que toda a natureza em sua esplêndida ternura.
-Um vento forte se aproxima. Entrarei. É noite profunda, não posso mais ficar a tomar este frio no corpo. Além do que, tu só falas mentiras para mim o tempo todo. Estou exausta, não me perturbes mais!
-Não, por favor! Oh, berilo do campo estrelado! Calhandra dos verões infantes!
-Oh, sim! Se me amas, deixar-me-á entrar para não ficar constipada. Quanto ao berilo e a calhandra vai isto dizer a quem te merece.
-Mas ainda duvidas de meu eidético sentimento? Acaso achas que eu não te protegerei de qualquer mal que de ti se aproximar? Duvidas que meu coração só reclama por teu, e tão somente, o teu amor?
-Não quis ofendê-lo, meu cínico senhor. Vais para tua casa, que eu entrarei neste santiâmem.
Ela despreza a reação dele que se indigna em não alcançar o convencimento.
-Irei se me concederes o direito de encostar os meus nos teus lábios que são puro mel.
-Atrevido! Ousado! Cretino!
-Atrevido sim, meu anjo barroco, e só o amor me faz ser assim tão insolente, e ousado, e cretino como o dizes!
-Pois não admiro-te nem um pouco. E pare de me chamar assim!
Impacienta-se com toda a conversa e ele desesperado tenta mais uma vez amansar a fera que há dentro do coração dela.
-Não feches assim a porta neste coração cansado de te implorar perdão!
-Já cedi-te tempo em demasia, não posso eu ficar aqui a jogar o tempo nesta noite fria. Nada do que tu fizeres irá mudar o meu querer!
-Ficas comigo, querida. E eu te esquentarei cada estilha de teu corpo macio...
-Agora excedestes as palavras. Não me procures nunca mais! Desapareças de minha porta, de minhas vistas, de minha vida! Tiveste teu tempo. Eu te ouvi!Agora chega!
-...
-Por que choras?
-Dê-me apenas o direito de derramar lágrimas minhas por ti, já que a pessoa que mais amo não me deseja sequer em sua porta. Não há mais um sentido doce para minha vida continuar...
-Não chores, sabes que não resisto a ver alguém chorar... por favor...
-Acaso te importas com o meu sofrer?
-Sim... me importo até mesmo com um animal a sofrer... por quê? Acaso achas, pensas que sou fria e débil criatura?
-... não. Mas acredito que se te importas com meu pranto é porque ainda me amas...
-Ora! Eu já te disse que não há possibilidades para teu regresso ao meu peito, que muito foi apunhalado. Sabes bem o que fizeste com meu sentimento, e agora queres que eu o faça renascer?
-Oh, apenas dê-me mais esta vez... Eu te preciso... Oh, meu nenúfar celeste, não me abandones!
-Muitas lágrimas derramei e tu não estiveste comigo quando sofria. Em outros tempos fui-te fiel dama, amável companheira e servil amiga. Soubestes reconhecer isto? Não. óbvio que não! Não posso dar-te além do meu desprezo e minha dor... Por favor, não quero mais continuar este diálogo. Vais e esquece-te de mim para toda a eternidade.
E a noite, aquele dia, estava mais escura que o breu manto da morte. A lua sofria em silêncio por mais um amor desfeito. Ele seguiu andando como que por um labirinto do subsolo infernal, para onde vão as almas arrasadas pelo fogo do amor mal resolvido. Tinha dentro de si a certeza que jamais outro amor como este receberia de uma outra dama. Todas as que dele se aproximariam não fariam um terço do que esta foi capaz de realizar em sua vida. Ela fechou não apenas a porta de sua alcova, mas também, de seu coração. Decidiu que nunca mais sofreria com outra adaga cravada em seu jovem coração. Um dia, tudo conspirou para a união destes jovens namorados que tanto se amavam. Eis que o verme da traição corroeu a aliança e nada mais foi possível a não ser o desatamento de suas almas. O destino, às vezes, pode ser definitivo e único, perverso e drástico. O que foi quebrado jamais se recuperará por inteiro.

(Jaquelyne de Almeida Costa, 25-05-2008)

3 comentários:

Jaquelyne Costa disse...

Gepp!!!!
Quanto elogio para minha pessoa!!Olha,muito obrigada por tudo!
Muito obrigada por existir!
Você sabe o quanto gosto do teu estilo de escrita!Te adoro demais,tá?!
Um enorme beijo!
E, com certeza, esse continho que fiz foi inspirada no teu maravilhoso diálogo trovadoresco!
Beijos, digníssimo amigo!

Anônimo disse...

Já virei fã dessa menina!
Fiquei sem palavras! O texto ficou muito, mas muito bom mesmo! Meus sinceros parabéns a ela (cumprimentá-la-ei "pessoalmente").

Boa semana! =)

Kyub disse...

oww, Mm vim da uma olhadinha no seu blog..me deparei com este texto maravilhoso.
O estilo de escrita é totalmente impecável.
De fato, contos como esses merecem ser devidamente glorificados, meus parabéns ^^