A SOLIDÃO DOS poetas deve ser algo verdadeiramente mortificante. Isolados eles produzem mais. Escrever é uma tarefa por si só, solitária. Até parece existir alguém maior que priva estes sofredores dos outros para que fabriquem aquilo que gosta de ler. Um pássaro canta um pranto pela liberdade e alegra alguns outros com a sua melancólica melodia.

EU SOU UM RATO que se esconde por detrás de uma parede quando alguém ilumina o meu refúgio, pois o lugar mais sombrio é mesmo embaixo da luz. Eu sou uma barata que teme ser esmagada pelo mundo e só mostro o meu semblante úmido quando não há nenhum perigo por perto, porque sou covarde. Covarde como um grilo que cessa o seu ruído ao ser descoberto, fugindo com as suas longas pernas esbranquiçadas em busca de um novo esconderijo. Às vezes eu só queria poder voar. Às vezes é tudo o que penso: voar para bem longe.
ESTOU EM UMA multidão. Não consigo abrir os braços ou caminhar sem esforço. Ficar imóvel é lutar para não ser carregado. Mesmo em meio a esse movimento, locomover-se se torna uma árdua tarefa. Eu quero sair. Chegar ao outro lado. Mas a correnteza me leva para um outro destino, consumindo meus calçados e rasgando a minha camisa em meio aos atritos. Meus membros já não me obedecem. Estou desesperado e ninguém é capaz de ouvir o meu grito. E então, como que de repente, a multidão se duplica e me comprime o peito. Já não consigo respirar, e à medida que crescem minha solidão se multiplica. Eu só quero estar sozinho.
SE VOCÊ FOSSE um pássaro que nasceu enclausurado, para onde iria após ser liberto? Desejo alguém do meu lado. Alguém que enfrente comigo a claridade da estrela. Que me forje asas de cera para poder fugir deste confuso labirinto ancestral. E se for para ser um rato de asas, me chame de morcego.