quarta-feira, 7 de maio de 2008

Insônia

Um. Dois. Três. Meus passos não fazem barulho no calçamento paralelepipedoquadriculado. Certas vezes pareço chegar como um espectro. Um susto naquele desatento sujeito.
Quatro. Cinco. Seis passos e cruzo a rua estreita ao seu encontro.
Tap-tap-tap. Passos ligeiros produzem maiores ruídos. No entanto, meu grito de desapontamento não emite nada sequer. Ele vem de dentro e fica ali dentro aumentando a minha dor. Você não estava lá. Nem mesmo compensou a travessia. Ora, ninguém estava lá.
Um, dois, três... quatro quintos de hora prá dormir. O cobertor já não me protege como antes. Não há mais motivos para isto. Há pessoas mais importantes para proteger. Sairei com meu cobertor agasalhando aqueles que eu quero bem. Dá prá contar no dedo...
Um, dois, três... dá prá contar no dedo.
Hoje tudo se resume a um. Talvez fique mais confortável assim.
Esta noite não estou de meias. O ponteiro completa a volta suavemente enquanto continuo desperto. Ele percorre o caminho com fúria e faz tanto barulho quanto meus passos.
Tap-tap-tap. Quebra a madrugada de silêncio ensurdecedor. Nada para tocar. Você não me deixa mais dormir. Consome toda a minha insônia. Em minhas ingênuas fantasias somente a sua presença me basta.
E você sempre estará ao meu alcance no outro lado da rua. Enquanto aguardo o advento de meu melancólico despertar.

(Giuseppe Menezes, março de 2007)

----------------------------------------------------------------------
Esta é uma carta de amor. Gosto dela por ser ingênua e simples. A versão original está grardada em mãos seguras. As contagens sequenciais se confundem com o barulho dos passos do ponteiro do relógio, que conduzem ao sono quando menos se espera. Às vezes só percebemos que dormimos quando despertos, não é? E o que esperar encontrar do outro lado da rua? O que vivemos é um sonho do qual talvez acordamos enquanto estamos dormindo.

6 comentários:

Polly . disse...

me achei nessa parte:
"No entanto, meu grito de desapontamento não emite nada sequer. Ele vem de dentro e fica ali dentro aumentando a minha dor. Você não estava lá. Nem mesmo compensou a travessia. Ora, ninguém estava lá."
amei isso
vc escreve mto³³³ bem mesmooo
=* moço

Jaquelyne Costa disse...

Poxa,Gepp!!
Sinceramente, eu gostaria de ter recebido esta carta, com a solução em meu abraço.
Adorei isso!
A carta toda!
Olha que coincidencia, no meu blog hoje botei um poema chamado carta e eu ainda não tinha vindo aqui ver o seu...
Destino...
Caminhos...
Beijos,Gepp!
Te adoro!

Anônimo disse...

Esta sensação de dormir enquanto acordada é, no mínimo, um tanto estranha. Eu não gosto de sentí-la.

Ellen Fernandes disse...

HUUU lala

Tem gente escrevendo muito bem...apesar de tdo amei este trecho
"Às vezes só percebemos que dormimos quando despertos, não é? E o que esperar encontrar do outro lado da rua? O que vivemos é um sonho do qual talvez acordamos enquanto estamos dormindo."

Realmente qdo despertos é que percebemos o qto estavamos longe e como não qriamos acordar para essa vil realidade

Uma ótima semana...

bjinhos

Ellen Fernandes disse...

Meu anjo...existem horas que agente não sabe entender nosso própio desejo...acho q esse é meu problema....


Bjus

Anônimo disse...

bom comeco