sábado, 26 de julho de 2008

Aprendiz


PASSOS DESENCONTRADOS cruzam a avenida em celeuma após encontrar uma lacuna no tráfego. Ele teme ser atingido mesmo estando incólume na outra margem; e se tivesse orelhas iguais às de um cão estariam constantemente apontadas para o passado, numa alusão ao medo ou insegurança. Hoje, contudo, não está cabisbaixo. Em seu percurso ele toca um poste, faz das grades de uma casa um violão e desemborca uma tampa de garrafa com um único toque de sapato. Não que esteja feliz, é apenas interação. Uma maneira particular de dizer a si mesmo que está presente. De repente percebeu que poderia modificar tudo à sua volta, mas lhe faltava apenas a coragem de fazê-lo. Foi capaz até de provocar sorrisos, mesmo estando ferido por dentro. É que a sua máscara nunca funcionou tão bem. Em seu fingimento, ele corre o risco de enganar até a si mesmo e acreditar que é verdadeiramente feliz. Está apenas aprendendo que o isolamento é um caminho sem volta; e que um infeliz seduz somente a solidão.

3 comentários:

Jaquelyne Costa disse...

Gepp, esse texto é único!!!
Meu Deus!!Eu quero voltar aqui com mais tempo e calma e disponibilizar mais atenção para ele.Poxa, ele me deu ainda mais certeza sobre o solitário de propósito e sua solidão quase egocêntrica (pelo menos foi assim que senti).
Parabéns,Gepp!!
Ah, você que é um tesouro!E melhor de tudo: tesouro humano!!!!
Beijos=**

Anônimo disse...

Isso me tocou. Tocou fundo mesmo. Achei fantástico, principalmente porque ando me sentindo meio assim. Acho que acabei me vendo no que li.
Não que eu esteja infeliz...

Polly Milani disse...

Esta parte tem mto a ver cmg
'De repente percebeu que poderia modificar tudo à sua volta, mas lhe faltava apenas a coragem de fazê-lo.'
;* amigo sumido