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sábado, 18 de outubro de 2008

Aventura de Sono

NÃO CONSIGO MAIS controlar a vontade de cochilar no ônibus enquanto volto pra casa. E tudo parece exatamente simétrico, uma vez que é sempre no mesmo lugar do trajeto aonde minha rendição começa. Nosso relógio biológico funciona perfeitamente quando a nossa rotina se torna constante. Há uma semana eu mudei o horário de meu despertador, pensando que assim eu ganharia mais alguns preciosos cinco minutos de sono, mas vi que não deu certo. Ora, eu sempre acordo cinco minutos antes do alarme gritar em meu ouvido. Então espero desperto pelo momento de desligá-lo.

IMPRESSIONANTE É o tamanho da vontade que temos em permanecer na cama quando somos obrigados a acordar cedo. Já perdi uma dezena de aulas por conta dessa preguiça. Um amigo dizia que colocava seu despertador do outro lado do quarto para que se sentisse obrigado a levantar logo, a fim de não incomodar o sono dos outros. Porque quando o sono realmente é grande, um despertadorzinho já não adianta.


REZA A LENDA QUE Hipnos, o deus do sono, não conseguia adormecer em si o amor que sentia. Inocente dos olhos que o seguiam, a graça Pasitéia se banhava e adormecia. É então que Hipnos saía de seu esconderijo, mas ao menor movimento da jovem ele desaparecia entre as árvores. Nos banquetes do Olimpo não se cansava de admirá-la, mas temia confessar-lhe o amor.

DE REPENTE HERA vem a Hipnos pedir-lhe um favor: teria que fazer com que Zeus adormecesse durante a Guerra de Tróia para que os gregos a ganhassem, pois ele protegia os troianos no longo confronto. Em troca, Hipnos ganharia um trono de ouro, que seria construído por Hefestos; e o amor da mais jovem das graças, sua querida Pasitéia. Encorajado, aceitou o acordo instantaneamente.

HERA UNTOU SEU corpo com óleo, amarrou os cabelos, vestiu a túnica bordada por Atena e cubriu-se de jóias. Calçou as sandálias de ouro e envolveu-se de um véu dourado. E por último, colocou o cinturão de Afrodite, na qual pediu emprestado contando à deusa que precisava dele para reconciliar seus pais adotivos, Oceano e Tétis, que teriam discutido. Perguntada pelo marido aonde iria tão enfeitada, Hera respondeu que iria visitar seus pais, mas Zeus, encantado, proibiu-a e chamou a deusa para a cama, aonde fizeram amor. Hipnos então o adormece, o que permite a vitória dos gregos.

À NOITE, O DEUS do sono viu uma clareira e avistou Pasitéia, sua graça amada, que parecia esperá-lo desde cedo. Aproximou-se encorajado por um sorriso e beijou-lhe as mãos, sentindo-se o mais feliz dos imortais.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

O Retrato de Dorian Gray

“COSTUMA-SE DIZER QUE a beleza é somente superficial. Pode ser que seja. Mas não tão superficial, pelo menos, como o pensamento. Para mim, a Beleza é a maravilha das maravilhas. Só o medíocre não julga pelas aparências. (...) Ah! Aproveite a sua juventude enquanto a tem. Não esbanje o ouro dos seus dias, dando ouvido aos tediosos, tentando melhorar o fracasso sem esperança ou desperdiçando sua vida com ignorantes, com o fútil, com o vulgar. São estes os objetivos doentios, os falsos ideais da nossa época. Viva! Viva a maravilhosa vida sua! Não perca coisa alguma dela. Busque sempre novas sensações. Que nada o atemorize.” [clique na imagem para ver o quadro]


O RETRATO DE DORIAN Gray (1890), de Oscar Wilde, é um romance sobre a corrupção da beleza. Nele, o jovem e belo Dorian possui a dádiva de jamais envelhecer, ao contrário do retrato dele pintado pelo talentoso Basil Hallward, que depositara nesta sua verdadeira obra-prima demasiado de si mesmo, uma vez que se tornara obcecado pelo seu gracioso modelo. A citação acima é de um dos diálogos do mais atraente personagem da trama, Lord Henry Wotton, cujas filosofias influenciam o até então ingênuo Dorian Gray que, ao perceber que a sua figura gravada na pintura de Basil jamais envelheceria, desejou que acontecesse o oposto: “Se eu ficasse sempre jovem, e esse retrato envelhecesse! Por isso – por isso – eu daria tudo! Sim, não há nada no mundo que eu não desse! Daria até a minha própria alma!” E é o que acontece.

O MAIS INTERESSANTE do livro é a maneira como a personalidade de Dorian vai se modelando com o passar do tempo. Acaba se envolvendo em alguns crimes dos quais jamais é suspeito, conservando intocado o seu invejoso semblante juvenil, mesmo no auge de seus quarenta anos. Enquanto isso, a sua alma aprisionada no quadro vai se tornando cada vez mais velha, enrugada e repugnante.

WILDE É AUTOR DE belíssimos poemas e contos, muitos deles sobre a beleza. Há uma inteligente conclusão sua sobre o mito de Narciso, um rapaz que todos os dias ia contemplar o rosto num lago e acabou morrendo afogado (no lugar onde caiu nasceu uma flor, que passamos a chamar de Narciso):

ELE DIZ QUE QUANDO o jovem morreu, vieram Oréiades (deusas do bosque), e viram que a água doce do lago havia se transformado em lágrimas salgadas.
– Por que você chora? – perguntaram as Oréiades.
– Choro por Narciso.
– Ah, não nos espanta que você chore por Narciso – continuaram elas. – Afinal de contas, apesar de todas nós sempre corrermos atrás dele pelo bosque, você é o único que tinha a oportunidade de contemplar de perto sua beleza.
– Mas Narciso era belo? – quis saber o lago.
– Quem melhor do que você poderia saber? – responderam, surpresas, as Oréiades. – Afinal de contas, era em suas margens que ele se debruçava todos os dias.
O lago ficou algum tempo quieto. Por fim, disse:
– Eu choro por Narciso, mas jamais havia percebido que Narciso era belo. Choro por ele porque, todas as vezes em que se deitava sobre minhas margens, eu podia ver, no fundo de seus olhos, a minha própria beleza refletida.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

O Inferno Mitológico

A PALAVRA INFERNO é usada em várias religiões para descrever a morada dos mortos, ou o lugar que, segundo o cristianismo, é destinado ao suplício eterno das almas dos condenados. Na mitologia greco-romana, no entanto, a coisa é um tanto diferente e vale a pena conhecer. Lá, por exemplo, tanto os condenados quanto as almas absolvidas moram no mesmo endereço infernal - conhecido como Hades -,uma vez que não existe céu. O Inferno mitológico, na verdade, nada mais é que um lugar subterrâneo onde estão as almas dos mortos.


O HADES ERA O INFERNO ou além túmulo, segundo a tradição grega, e era governado por um deus de mesmo nome: Hades. Era ele quem propiciava o desenvolvimento das sementes, por isso os romanos chamavam-no de Plutão (aquele que dá a abundância). Caracterizam-no o cenho franzino, quase sinistro, com cabelos desordenados, barba longa e desalinhada. Sua vestimenta vermelha compõe-se de uma túnica e um pesado manto. Senta-se num trono e tem o dom de ser invisível, tal qual seu mundo. Esse dom é graças a seu capacete, feito pelos ciclopes na guerra dos deuses olímpicos contra Cronos e os Titãs.
APÓS A VITÓRIA, OS três irmãos olímpicos (Hades, Poseidon e Zeus) dividiram o domínio do mundo: ao taciturno Hades coube o mundo subterrâneo, onde seus súditos são os mortos. Reinava em companhia de sua esposa Perséfone e de seu cão de três cabeças com cauda de serpente, Cérbero, que recebia a alma dos mortos mas nunca lhes permitia a saída.
NA REGIÃO DO HADES havia cinco rios: o Estige (rio das trevas), o Aqueronte (das penas), o Fégeton (do fogo), o Cocito (dos lamentos) e o Lete (do esquecimento). Primeiro vêm as Moiras anunciar a hora derradeira ao mortal, depois chegam as queres, que cercam a vítima e debilitam-lhe corpo e espírito, sangrando-na com as unhas e bebendo-lhe todo o sangue. A alma sem carne é conduzida por Hermes até as margens do Estige, onde o velho barqueiro Caronte a atravessa para a outra margem. Se, porém o preço da passagem não havia sido depositado na boca do morto, Caronte abandonava-o como alma penada. Os que não haviam recebido sepultura condigna eram também recusados, e deviam vagar durante cem anos a fim de serem admitidos no reino dos mortos.
A ALMA DOS MORTOS FICA entre as sombras, onde pode observar dois caminhos: para o Tártaro, suplício eterno dos maus, onde estão aprisionados os Titãs; e para os Campos Elísios, eterno prêmio dos sustos. Diante das almas apresentam-se os juízes: Minos, Éaco e Radamanto, e somente por último surge Hades, que carrega a cansada indiferença de quem já se acostumou a pronunciar a palavra final.