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domingo, 17 de julho de 2011

Um soldado perdido

O SOLDADO DEIXOU sua guarda. Olhou para si e não se reconheceu. Levantou-se e se colocou a caminhar em direção àquela estrada de terra abandonada. A manhã de céu nublado ensaiava engendrar os primeiros raios de sol. Ele parecia cansado e mal caminhava direito. Ao caminhar suas botas arranhavam o chão cheio de pedras e não produzia pegadas, mas rastros disformes. Carregava um grande peso nas costas, talvez toda a sua vida desviada e perdida. A arma escorregou pelos seus braços e o encontro com o chão pareceu mais um lento pouso que uma queda. Seu caminhar arrastado continuava e agora se olhasse para trás já não conseguiria mais ver o seu posto. Suas mãos agora vazias tocaram o seu duro capacete, que foi lentamente retirado sem esforço. O soldado o jogou fora e o seu barulho ao bater numa rocha serviu de ordem para que o homem fechasse seus olhos. Sem destino. Sem motivação. Sem sentido. Caminhando na escuridão daquele dia cinzento ele afastou as mãos uma da outra o máximo que conseguiu, e quem o visse de longe poderia pensar que desejava abraçar o mundo inteiro só com um movimento. Ergueu a sua cabeça antes abaixada e deixou a brisa tocar a sua face inexpressiva. Após três passos seu equilíbrio teve fim e caiu numa pequena ladeira que ia de encontro a um rio estreito e de águas escuras. Não havia vida ali. Não havia vida em lugar nenhum. O soldado ficou caído e imóvel próximo à margem e aos poucos foi voltando à realidade sentindo que seus pés estavam úmidos. Abriu os olhos mirando as pernas e percebeu que suas botas tocavam a água, e num movimento rápido ficou descalço. Adentrou no rio como se quisesse atravessá-lo e caminhou em direção à outra margem. A água atingiu seus joelhos e depois suas mãos, chegando logo à altura da cintura. Seu caminhar sem destino se encerrou num estante e sentiu o rosto úmido, mas não de água. Uma lágrima atravessou sua bochecha e se escondeu em sua barba. E o soldado desconhecido aceitou a sua solidão deitando-se nas águas do rio parado como se ali fosse o seu leito. Ele sentiu que já não sabia mais sentir.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Celebração à Solidão

Desarme-se
Você está livre agora
Eu voltarei à minha posição observadora e introspectiva
E então poderá novamente se reservar
Solitária
Ao lado de sua amiga solitária
Todos juntos em uma solidão coletiva
Assim nos sentimos bem
Enquanto nos sentimos sóis
Seu braço pode se posicionar diferente
E suas mãos abertas com os dedos a mirar-me
Em movimentos digitais ebrefechantes
Mas nosso fingimento nos permanece
Nosso egoísmo nos compreende
Nossa solidão nos basta
É que não queremos perder a graça de esperar
Para depois pensar em desembarcar
Vamos ficar assim, então
Juntos enquanto distantes

quarta-feira, 31 de março de 2010

Encontro com o Passado


OUTRO DIA ENTREI EM meu antigo quarto a fim de preencher um imenso vazio. Ele parece um depósito de lembranças adormecidas que se misturam entre cadernos, imagens e demais objetos até então temporariamente perdidos e esquecidos. A poeira, como um agente do tempo, coloca rugas e enferma meus objetos do passado me avisando que um dia tudo aquilo não me fará mais sentido. E se eu esquecesse tudo o que vivi? Um homem viveria o futuro sem o passado? Eu vi cartas e desenhos. Contos e problemas. Coleções absurdas e lembranças de alguns momentos. Um papel dobrado com anotações e uma lista sem sentido. Nomes que não conheço e comerciais obsoletos. Acessórios de um tempo diferente e obsessões hoje sem importância. Encontro escritos datados e planos extraordinários de coisas que nunca cheguei a concluir. Vestes sem uso. Um modelo do que eu deveria me tornar.

EM MEIO A TODO ESTE depósito de lembranças eu vasculho e seleciono o que ainda faz sentido e descarto estratagemas que não mais levarei em diante. E mergulhado nesta piscina melancólica eu traduzo obras que há tempos ninguém lia. Sou eu lendo para mim mesmo um livro que só hoje consigo entender. Meu passado me mostra o caminho a seguir e não me faz esquecer como devo me portar. E por detrás de um pano eu vejo algo em movimento. Foco melhor e reconheço um espelho com o meu reflexo. De tanto vasculhar o meu passado reconheço que o que eu estava tentando encontrar era a mim mesmo. E no plano inverso, no lado oposto a este tempo, um ser ingênuo faz projeções confusas buscando descobrir o que acontecerá consigo quando avançar anos no relógio. Seu quarto, no entanto, ainda não tem poeira alguma.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Delírio


O RELÓGIO MARCA 6:59 da noite. Deito-me em minha cama e começo a refletir sobre o nada enquanto observo o teto esbranquiçado que traduz o que eu conquistei nos últimos tempos. Minha pele está quente, meus olhos estão pesados e minhas pernas fracas. Sinto frio, fome e você cada vez mais longe.

É IMPOSSÍVEL CONTROLAR o meu leito. Ele me leva para onde jamais estive, desprendendo-se de meu corpo enfermo e deixando-me no ar. Observo um sujeito franzino e de passos longos a bater na calçada com os seus sapatos pobres. Ele atrasou-se e corre para ganhar tempo. Sei que mais tarde ele reclamará de sua vida atarefada, mas desconhece o que pratica em suas horas vagas. Não sabia que a sua solidão o faria deitar-se em sua cama ainda quente pra refletir sobre coisa nenhuma.

AO ABRIR A JANELA observei algo flutuando no ar: era alguém apavorado, insatisfeito e descontente de estar imóvel. Torcia para cair ainda que a conseqüência fosse a sua morte. Ele não gosta de estar por cima e entende tudo sobre isso. Mais vale o mistério.

FOI AO PENSAR nisto que seu corpo se desprendeu do espaço e atingiu o chão, fazendo-o despertar às 7:23 da noite naquele corpo ainda em chamas.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Escolhas

EU TROQUEI OS filmes de graça pelos alugados. Troquei as notícias virtuais pelas televisivas. Troquei os estudos por entretenimento inútil. Troquei os fones de ouvido por um livro. Substituí a ficha da biblioteca pela do banco. Preferi Pink Floyd a Nirvana. Deixei um cabelo grande por um par de óculos. E adquiri com isto a saudade de algumas boas noites

MAS HOJE MEU semblante cansado está mais compreensivo. Mas minhas noites, não menos longas e nostálgicas. E meu medo do futuro cada vez mais presente. Como estarei daqui a cinco anos? Espero que menos preocupado e um pouco mais acompanhado.

ACHO QUE EU passarei uma semana sem fazer a barba...

domingo, 1 de março de 2009

Lista de listas

EU GOSTO DE FAZER listas. Já fiz lista dos filmes que mais gostei de assistir e daqueles que ainda pretendo ver, assim como já fiz catálogo das músicas que mais gosto e de discos que ainda ouvirei. A literatura também não fica para trás, já que tenho uma lista dos livros que já li a uma folha contendo os títulos que ainda pretendo ler antes de morrer. Este hábito, no entanto, anda meio abandonado, assim como inúmeras outras coisas que não faço mais. Não sei como é, mas talvez eu estivesse cansado de ser quem eu sou. Eu não era muita coisa, mas pelo menos conquistei algo. Só agora percebo que a minha mudança trouxe conseqüências e por isso pretendo voltar a ser a mesma pessoa de sempre: interessante apenas para mim mesmo. Agora, então, pretendo riscar mais itens de meus catálogos já criados antes que eu comece a fazer uma nova lista contendo os grandes amigos que eu já perdi.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Au revoir

MELISSA FOI EMBORA quando deixou de me olhar nos olhos. Quando não quis mais brincar. Melissa foi embora sem se despedir ou olhar sobre os ombros, levando consigo meu sorriso. Ela nunca pediu para ficar e nem mesmo avisou de sua partida. Melissa preferiu sair à noite, quando o ponteiro pequeno estava mais alto e um escorpião desenhava o céu estrelado. Sim, ela foi tarde. Vai tarde, Melissa! Mas se decidir voltar, não hesite em apagar as luzes.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Não sou uma laranja

PORQUE A MAIORIA dos produtos comerciais fontes de Vitamina C abusam da cor laranja e da fruta de mesmo nome? Não sabem eles que a acerola possui 1600 mg/100g e que tantas outras frutas vencem a laranja, que tem apenas 50 mg/100g (outros exemplos são jujuba, goiaba, kiwi, amora, mamão e morango)? A popularidade anda mesmo ao lado da hipocrisia (ou ignorância).

ISSO ME FAZ LEMBRAR daqueles(as) bons(as) alunos(as) que alguns professores adoram e são motivo de desprezo para outros tantos. Eu sempre me simpatizei mais por aqueles que não chamam muito a atenção e na maioria acabo descobrindo que eles têm a capacidade de ser tão bons quanto qualquer um. Não tiram notas muito altas e não questionam muito nos cursos; Não vivem estudando em casa e não têm exemplo de frequencia nas aulas; Nunca têm seus nomes lembrados pelos professores e jamais frequentam as festas da turma; Ficam nervosos na hora da apresentação e sempre deixam uma boa idéia para a apresentação seguinte copiar com maior profissionalismo; Gostam de sentar-se no centro da sala de aula e votar contra a maioria.

EU AINDA NÃO SINTO falta dos tempos de escola, mas dizem que é algo que a gente sempre gostaria de reviver novamente. Sei lá. Talvez eu seja apenas um daqueles que nunca seriam lembrados para uma festa de re-reunião de turma. Talvez. Não sou uma acerola, mas um mamão já é de bom tamanho.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Soldadinho

QUANDO CRIANÇAS, planejamos o nosso futuro de um modo tão singelo e fantasioso que somente quando adultos percebemos o quanto nós mudamos. Ainda me lembro de desenhar no chão do quintal as ruas de uma cidadela aonde brincaria com meus carros coloridos. Dinossauros e soldados existiam no mesmo plano histórico e as horas passavam ligeiras até a hora do jantar se anunciar. Eu temia virar adulto e abandonar as minhas diversões de infância chegando a prometer a mim mesmo que brincaria de soldado mesmo quando adulto, mas esse jovem foi se perdendo a cada ano dentro de um vilão em crescimento. Porque os adultos são vilões. Com as suas ordens; com os seus gritos; com as suas conversas chatas; com os seus compromissos idiotas; e com os seus dinheiros que nunca sobram para nada realmente interessante. Sinto falta da infância que nunca tive, dos amigos de rua que nunca brinquei, dos machucados que nunca curei e das surras que nunca levei. Com o passar do tempo pareço até uma criança reprimida num corpo que não me pertence mais. E pior que quebrar uma promessa feita a alguém é não levar a sério os juramentos feitos a nós mesmos. “- Soldados, preparar!”

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Homem árvore


UM PENSAMENTO DE infância me veio numa dessas tardes dominicais aonde eu devorava uma laranja e descartava os caroços jogando-os pelo jardim junto às plantas de minha mãe. Meu pequeno e curioso cão corria atrás de cada um deles e mastigava-os sem engolir, uma vez que não tinha nada melhor pra fazer. Lembrei-me, então, que na infância eu fazia por onde não comer sementes a fim de evitar que crescesse dentro de meu estômago juvenil uma grande árvore. Sim, senhor. Como seria interessante ver saindo de minha boca uma folha verde ou de minhas orelhas alguns galhos marrons em busca de luz. Seria eu homem-árvore ou árvore-homem? Prefiro nem imaginar, porque eu não gostaria de criar raízes.

sábado, 27 de setembro de 2008

Invisível


Ainda me lembro do que ele ma chamou. Covarde inútil. Se eu já estava pra baixo, as palavras do capitão me jogaram de vez no chão. Mas talvez seja mesmo verdade. Minha missão já caminha rumo ao fracasso desde o seu princípio. Eu me iludi e enganei ao mesmo tempo aqueles que um dia já acreditaram em mim. O acaso acertou em cheio o meu estomago. Quiçá tenha sido esta a razão de meu vômito, que derramei novamente em meu velho caderno.

Eu tentei entrar na mente dela e acabei afastando-a de mim mais uma vez. Ainda não aprendi a abdicar dos recursos proibidos que possuo. Procurei me afastar de todos e percebi que não era necessário, uma vez que nunca estive verdadeiramente acompanhado. Se eu sumir, ninguém perceberá o ocorrido, uma vez que ninguém procurou saber sobre mim enquanto estive recluso. Como podemos sentir falta de alguém que nunca esteve conosco? Alguns sentimentos adquiridos ainda me são incompreensíveis.

Meu comunicador já não dá sinal de vida há tempos, mas sei que ainda funciona perfeitamente. Da última vez em que o utilizei respondi ao capitão que me cobrava um relatório dos acontecimentos, e isso já faz meses. O curioso é que estou sempre disponível, mas todos fingem não me ver. Talvez até deva discursar sobre essa indesejada habilidade em meu próximo ofício, o que poderá chamar a atenção de alguns.

Ele me pediu que eu sorrisse. E é o que eu tenho feito desde então. Este soldado nunca pareceu tão socializável. Esconder as mágoas, no entanto, é uma árdua tarefa, e uma recaída poderá a todos surpreender. “O que aconteceu com ele? Parecia tão bem...”

Ilusão. Ninguém responde à despedida de um fantasma uniformizado.

sábado, 26 de julho de 2008

Aprendiz


PASSOS DESENCONTRADOS cruzam a avenida em celeuma após encontrar uma lacuna no tráfego. Ele teme ser atingido mesmo estando incólume na outra margem; e se tivesse orelhas iguais às de um cão estariam constantemente apontadas para o passado, numa alusão ao medo ou insegurança. Hoje, contudo, não está cabisbaixo. Em seu percurso ele toca um poste, faz das grades de uma casa um violão e desemborca uma tampa de garrafa com um único toque de sapato. Não que esteja feliz, é apenas interação. Uma maneira particular de dizer a si mesmo que está presente. De repente percebeu que poderia modificar tudo à sua volta, mas lhe faltava apenas a coragem de fazê-lo. Foi capaz até de provocar sorrisos, mesmo estando ferido por dentro. É que a sua máscara nunca funcionou tão bem. Em seu fingimento, ele corre o risco de enganar até a si mesmo e acreditar que é verdadeiramente feliz. Está apenas aprendendo que o isolamento é um caminho sem volta; e que um infeliz seduz somente a solidão.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Eu sou um rato

A SOLIDÃO DOS poetas deve ser algo verdadeiramente mortificante. Isolados eles produzem mais. Escrever é uma tarefa por si só, solitária. Até parece existir alguém maior que priva estes sofredores dos outros para que fabriquem aquilo que gosta de ler. Um pássaro canta um pranto pela liberdade e alegra alguns outros com a sua melancólica melodia.



EU SOU UM RATO
que se esconde por detrás de uma parede quando alguém ilumina o meu refúgio, pois o lugar mais sombrio é mesmo embaixo da luz. Eu sou uma barata que teme ser esmagada pelo mundo e só mostro o meu semblante úmido quando não há nenhum perigo por perto, porque sou covarde. Covarde como um grilo que cessa o seu ruído ao ser descoberto, fugindo com as suas longas pernas esbranquiçadas em busca de um novo esconderijo. Às vezes eu só queria poder voar. Às vezes é tudo o que penso: voar para bem longe.

ESTOU EM UMA
multidão. Não consigo abrir os braços ou caminhar sem esforço. Ficar imóvel é lutar para não ser carregado. Mesmo em meio a esse movimento, locomover-se se torna uma árdua tarefa. Eu quero sair. Chegar ao outro lado. Mas a correnteza me leva para um outro destino, consumindo meus calçados e rasgando a minha camisa em meio aos atritos. Meus membros já não me obedecem. Estou desesperado e ninguém é capaz de ouvir o meu grito. E então, como que de repente, a multidão se duplica e me comprime o peito. Já não consigo respirar, e à medida que crescem minha solidão se multiplica. Eu só quero estar sozinho.

SE VOCÊ FOSSE
um pássaro que nasceu enclausurado, para onde iria após ser liberto? Desejo alguém do meu lado. Alguém que enfrente comigo a claridade da estrela. Que me forje asas de cera para poder fugir deste confuso labirinto ancestral. E se for para ser um rato de asas, me chame de morcego.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Aquele guerreiro invisível

Mas eu ainda tento escrever / Os tremores não me impedirão / Quanto ao acaso, dele sou brinquedo

Eu senti, juro que senti / O abraço das Graças a me envolver / Ainda não é hora de chorar / Eu não quero te iludir / Devo confessar-lhe: o perigo me cerca / Meu escudo está rachado / Eu revelo agora meu frágil coração / Entrego ele em suas mãos

Abra, abra as portas de tua casa / Mostre-me quem você é / A sua coleção de cabeças na parede / Os teus animais empalhados / As suas lanças ainda ensangüentadas / Os teus cálices sagrados / As oferendas ao teu deus sombrio

Abraçe-me novamente / Enquanto a viagem ainda se inicia / O caminho aqui é perigoso / Mas aquele dragão já não vive mais / Tenho-o ainda na lembrança / E na ferida em meu peito / Ela não consegue cicatrizar / Ela não consegue mais nada

Veja o meu rosto e toque a minha face / Tente reconhecê-lo só por um instante / Tente, mesmo que seja tarde / A minha esperança é imortal / E minha paciência monstruosa / Nem o teu porteiro, o Gigante de Metal / Nem mesmo ele conseguirá me deter

Aquela luz por pouco não me cega / Ela surgiu de repente, como deve ser / Não julguei estar preparado / Mas me entreguei de braços abertos / Observe a minha armadura, guerreiro / Ela reflete o teu semblante: / É preciso pensar várias vezes / Antes de tentar me ferir

A sua capa não era vermelha / Mas agora ela reflete a sua glória / Ainda que seja inútil

(Giuseppe Menezes, setembro de 2005)

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Apenas um diálogo trovadoresco

- Eu e você
- Você e eu

- Nós
- Arremates
- Estás indiferente
- Estou bem aqui
- Parece a quilômetros de distância
- O que vale é o momento
- Mais vale o pensamento
- Quanto daria por ele?
- As nuvens que choram e as estrelas que cegam
- Não pode com tamanhas moedas pagar
- Não me deixa ao menos tentar?
- Seu incômodo deve ter algum motivo
- Talvez o seu modo tão altivo
- Equivoca-se
- Transforma-se
- Julga errado
- Traduzo o que vejo
- Não pode a tudo enxergar
- É a confissão de teu segredo
- Coloca palavras em minha boca
- Perdoe meu errôneo lampejo
- Devo mesmo confessar?
- Meu maior desejo!
- Não há o que dizer
- Não é exatamente o que vejo
- Por favor, pare
- Peço que continue
- Ah, não
- Oh, não
- Agora falamos a mesma língua?
- És aquilo que sinto
- Vamos entrar, inicia-se a chuva
- Vai você, quero com as frias gotas conversar
- Irá resfriar-se
- Importa-se?
- Não deveria?
- Não irei me molhar
- E irá a chuva secar?
- Deixarei-a confundir-se com minhas lágrimas
- Choras?
- Sua dúvida me fere
- Não consigo perceber
- Impossível me conter
- Adeus
(entra)
- Oh, chuva, me consuma como a uma montanha de sal.
E me leve por este estreito bueiro.
Pois é num esgoto escuro e abandonado.
Que mereço estar após ter um amor recusado.
(consome-se)

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Insônia

Um. Dois. Três. Meus passos não fazem barulho no calçamento paralelepipedoquadriculado. Certas vezes pareço chegar como um espectro. Um susto naquele desatento sujeito.
Quatro. Cinco. Seis passos e cruzo a rua estreita ao seu encontro.
Tap-tap-tap. Passos ligeiros produzem maiores ruídos. No entanto, meu grito de desapontamento não emite nada sequer. Ele vem de dentro e fica ali dentro aumentando a minha dor. Você não estava lá. Nem mesmo compensou a travessia. Ora, ninguém estava lá.
Um, dois, três... quatro quintos de hora prá dormir. O cobertor já não me protege como antes. Não há mais motivos para isto. Há pessoas mais importantes para proteger. Sairei com meu cobertor agasalhando aqueles que eu quero bem. Dá prá contar no dedo...
Um, dois, três... dá prá contar no dedo.
Hoje tudo se resume a um. Talvez fique mais confortável assim.
Esta noite não estou de meias. O ponteiro completa a volta suavemente enquanto continuo desperto. Ele percorre o caminho com fúria e faz tanto barulho quanto meus passos.
Tap-tap-tap. Quebra a madrugada de silêncio ensurdecedor. Nada para tocar. Você não me deixa mais dormir. Consome toda a minha insônia. Em minhas ingênuas fantasias somente a sua presença me basta.
E você sempre estará ao meu alcance no outro lado da rua. Enquanto aguardo o advento de meu melancólico despertar.

(Giuseppe Menezes, março de 2007)

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Esta é uma carta de amor. Gosto dela por ser ingênua e simples. A versão original está grardada em mãos seguras. As contagens sequenciais se confundem com o barulho dos passos do ponteiro do relógio, que conduzem ao sono quando menos se espera. Às vezes só percebemos que dormimos quando despertos, não é? E o que esperar encontrar do outro lado da rua? O que vivemos é um sonho do qual talvez acordamos enquanto estamos dormindo.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Um Espirro


TRANQUEI-ME NO QUARTO escuro em busca de novas perguntas e da mesma coragem inimiga de sempre, à espera de alguém com uma mão estendida e um abraço sincero guardado de presente. Quando se está em busca de auto compreensão é necessário assumir que há algo de errado contigo. Deprimir-se para poder escrever é como drogar-se para fazer arte, ou uma forma de mentir para si mesmo. Toda forma de arte deveria ser gratuita. Do contrário, mais parece uma prostituição. Logo, a maioria dos artistas são infames meretrizes. Quando relemos antes de concluir um trabalho é porque há insegurança nas palavras, e quando escrevemos prá nós mesmos produzimos o que melhor conseguimos compor. No entanto, há inúmeros exemplos de obras primas escritas para qualquer outro alguém − na maioria das vezes, uma musa capaz de provocar o amor. Na verdade nunca amei corretamente nem ouvi nenhuma declaração amorosa. Meus verdadeiros amigos eu consigo contar nos dedos de talvez uma única mão apenas. E que seja a mão esquerda, que é mais próxima ao coração, que é órgão figurado do sentimento. Enfim, não sei o propósito destas linhas confusas e miscigenadas. Talvez um desabafo idiota. Este texto é apenas um espirro. É um desejo de liberdade. É um comichão inconsciente. É uma carta de amor inusitada. Ah, se você pudesse entrar em minha mente. Então encontraria apenas espelhos com seu reflexo gravado neles.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Um Soldado Deprimido

ALGO VERDADEIRAMENTE PERIGOSO (ou útil) de se possuir em casa quando se está deprimido é uma arma. Se você quer mesmo acabar com tudo, não pegaria uma maldita faca para cortar a garganta ou coisa parecida. Você mal teria disposição para isso. Com uma arma seria diferente. Bastaria mover um pequeno gatilho e ir embora. Sumir de vez.


ISSO ME VEIO QUANDO ESTAVA indo ao cabeleireiro aparar um pouco os cabelos já grandes. O sujeito que apareceu para fazer o serviço era alguém que eu nunca tinha visto. Eu fiquei com receio de ele fazer algum estrago na minha cabeça, mas pensando bem, eu não estava me importando mesmo àquela altura. Pedi o corte de sempre, mas como ele também nunca tinha me visto, tive de explicar o troço todo.
QUANDO SE ESTÁ DEPRIMIDO, não é muito confortável dialogar o que quer que seja. E é a coisa mais irritante do mundo sentir um desconhecido passando as mãos nos seus cabelos e mandando você abaixar a cabeça, jogando aquele irritante esguicho d'água no seu cabelo. A vontade que eu tinha era de descer daquela cadeira e quebrar aquela maldita cara de burguês do cabeleireiro. No final, paguei-lhe a quantia conhecida e ele me desejou um bom fim de semana. Respondi na menor empolgação e falsidade do mundo, mas é uma daquelas coisas que devemos responder apesar das circunstâncias. Eu queria mesmo é mandá-lo para a puta que o pariu.
NO CAMINHO DE VOLTA, passei por duas garotas que estavam com um bichinho minúsculo de pelúcia, um daqueles penduricalhos idiotas para celular. Mostravam-se muito empolgadas com ele. Achei um verdadeiro porre aquilo. Passei por mais algumas meninas e não senti a mínima vontade de olhar para elas, algo que todo homem faria em seu estado normal de espírito. Gente maldita. Gostaria de acabar com todos num piscar de olhos. E talvez sumir junto com eles.
QUANDO VOLTEI PARA CASA, me aprontei para o trabalho e peguei o ônibus. Puxei um livro da bolsa e li o caminho todo. Não olhei para ninguém, mas senti que estava sendo olhado. Não me importei e não dava a mínima importância. Desci do veículo e caminhei me arrastando pelo caminho até chegar à base. Cumprimentei o Capitão Estorvo e ele me mandou para o inferno. Parecia que ele falava com toda a sinceridade do mundo.
DROGA, O QUE HAVIA de errado com ele?

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Apresentação

Yes, tenho um blog. Nunca antes havia pensado em ter um, mas desde que decidi dar um tempo naquele sucesso chamado Orkut eu senti a necessidade de explorar novos horizontes na internet. Tudo o que se torna popular demais me perturba.

O que você pretende mostrar neste seu novo espaço?
Não sei. Somente o tempo dirá. Atualmente estou pesquisando muito sobre música, descobrindo novas e velhas bandas que eu nunca tinha parado prá escutar. Talvez por isso eu começe a escrever sobre esses sons.
Que outras vertentes você pretende explorar?
Gosto de coisas extremamente distintas. Quadrinhos, filmes reflexivos, mitologia, desenhos, literatura clássica, listas... Pretendo mesclar um pouco de tudo.
Você é algum crítico musical prá escrever sobre música?
Não. E quem é você prá me fazer essas perguntas? Desde quando isto virou uma entrevista?
Relaxe, cara, você me colocou aqui. Estou isento de culpas. Você criou isto.
Ok, ok. Declaro encerrado o papo. E vamos ao que interessa.

Fim da apresentação. Kozmic Soldier é uma ilusão. Pressione Alt+F4 para voltar à sua realidade insana.